Quase somos levados às lágrimas pela imprensa televisiva quando ela aborda certas ocorrências criminais. A mídia dos grandes centros urbanos brasileiros, particularmente São Paulo e Rio de Janeiro, domina e define a forma como serão veiculadas as matérias que irão contribuir para a opinião de todos os grupos sociais. No caso dos crimes que são tipificados como homicídios, há uma seleção daqueles que serão transformados detalhadamente em verdadeiros shows de projeções, especulações e, o mais terrível, de sensacionalismo forjado.
Nos últimos anos, assistimos comovidos ao desenrolar da investigação e julgamento até antecipados de crimes que ganharam status de novela, nos quais os atores são criados, moldados, ridicularizados, execrados e julgados. Por outro lado, na mesma trama, outros atores emergem vitimados, injustiçados e encarnados como seres do bem e da paz, são figuras quase divinizadas pela dor grandiloquente na imprensa. Mas o que é isso? Por que os casos das brasileiras Isabella Nardoni e Mércia Nakashima, este que ainda está em processo de investigação, ganharam tal dimensão?
Seríamos insensíveis do ponto de vista dos direitos humanos, da ética, da moralidade e da defesa da justiça em solidariedade à dor das famílias se minimizássemos a importância desses crimes tão brutais e de características cruéis. No entanto, será que estamos sendo insensíveis com outros crimes de menor ou maior abrangência no seio da nossa sociedade? Por que o caso de crianças que foram brutalmente assassinadas em outras regiões do Brasil, fora da região Sudeste, não ganhou o mesmo status, como o caso da criança Maisla, que foi assassinada e esquartejada em 2009 na cidade de Natal no Rio Grande do Norte?
Nós estamos nos comovendo mais com esse ou aquele caso por que a mídia televisiva das grandes metrópoles decidiu? Por que a vítima dos crimes-novela fazia parte de uma classe média e tinha parentes influentes nos meios do judiciário e até mesmo da própria polícia brasileira?
Essas vítimas selecionadas são mais humanas do que as vítimas de outros centros urbanos que acabam sendo esquecidas, e o trabalho de investigação não passa da precariedade e, por conseguinte, não acontece um julgamento digno? Por que as famílias dos casos de crimes-novela devem ter mais atenção e solidariedade humana do que as famílias que nunca tiveram a chance de ver a elucidação da morte dos seus entes queridos?
Que polícia criminal é esta que menospreza o trabalho de inteligência e avilta os procedimentos de investigação sob a técnica e observação rigorosa da ética, como vimos no caso de Mércia Nakashima em 2010? Que polícia é essa que comunga com os ditames e orientações da imprensa criminal e torna o trabalho de investigação de um crime atabalhoado? Que polícia é essa que já estabelece um discurso afinado com a imprensa no pré-julgamento dos indivíduos que ainda não passaram pelo processo transitado em julgado? Que polícia é essa que participa da montagem dos crimes-novela para o deleite da imprensa preconceituosa, segregadora e sedenta pela audiência de todos os grupos sociais, fazendo uma exibição cinematográfica, sensacionalista e irresponsável?
Precisamos nos sensibilizar mais com os crimes cometidos com Isabella Nardoni, Mércia Nakashima, entre outros. Isso significa o repúdio ao sensacionalismo barato e irresponsável. Contudo, devemos nos sensibilizar também com os crimes de outras vítimas que não fazem parte da classe média, não moram nos grandes centros urbanos e não têm sobrenomes importantes.
Quando deixamos a imprensa criminal nos sensibilizar com seus crimes-novela estamos inversamente nos tornando mais insensíveis porque esquecemos os arrabaldes, as comunidades periféricas, isto é, os outros espaços onde o crime também acontece com o mesmo sinistro, a mesma dor, as mesmas lágrimas e a mesma sede de justiça. Será que precisamos democratizar também a exibição dos crimes na imprensa televisiva?
O texto acima é de autoria de Arlan Eloi Leite Silva, Bacharel e Licenciado em História – UFRN, Pós-Graduando em Metodologia do Ensino de História e Geografia – UNINTER, Instrutor da disciplina História da PM no Centro de Formação e Aperfeiçoamento da Polícia Militar – CFAPM/RN, e Soldado da PM/RN.
(A imagem que ilustra o texto foi copiada do link Imagens Google.)
Nos últimos anos, assistimos comovidos ao desenrolar da investigação e julgamento até antecipados de crimes que ganharam status de novela, nos quais os atores são criados, moldados, ridicularizados, execrados e julgados. Por outro lado, na mesma trama, outros atores emergem vitimados, injustiçados e encarnados como seres do bem e da paz, são figuras quase divinizadas pela dor grandiloquente na imprensa. Mas o que é isso? Por que os casos das brasileiras Isabella Nardoni e Mércia Nakashima, este que ainda está em processo de investigação, ganharam tal dimensão?
Seríamos insensíveis do ponto de vista dos direitos humanos, da ética, da moralidade e da defesa da justiça em solidariedade à dor das famílias se minimizássemos a importância desses crimes tão brutais e de características cruéis. No entanto, será que estamos sendo insensíveis com outros crimes de menor ou maior abrangência no seio da nossa sociedade? Por que o caso de crianças que foram brutalmente assassinadas em outras regiões do Brasil, fora da região Sudeste, não ganhou o mesmo status, como o caso da criança Maisla, que foi assassinada e esquartejada em 2009 na cidade de Natal no Rio Grande do Norte?
Nós estamos nos comovendo mais com esse ou aquele caso por que a mídia televisiva das grandes metrópoles decidiu? Por que a vítima dos crimes-novela fazia parte de uma classe média e tinha parentes influentes nos meios do judiciário e até mesmo da própria polícia brasileira?
Essas vítimas selecionadas são mais humanas do que as vítimas de outros centros urbanos que acabam sendo esquecidas, e o trabalho de investigação não passa da precariedade e, por conseguinte, não acontece um julgamento digno? Por que as famílias dos casos de crimes-novela devem ter mais atenção e solidariedade humana do que as famílias que nunca tiveram a chance de ver a elucidação da morte dos seus entes queridos?
Que polícia criminal é esta que menospreza o trabalho de inteligência e avilta os procedimentos de investigação sob a técnica e observação rigorosa da ética, como vimos no caso de Mércia Nakashima em 2010? Que polícia é essa que comunga com os ditames e orientações da imprensa criminal e torna o trabalho de investigação de um crime atabalhoado? Que polícia é essa que já estabelece um discurso afinado com a imprensa no pré-julgamento dos indivíduos que ainda não passaram pelo processo transitado em julgado? Que polícia é essa que participa da montagem dos crimes-novela para o deleite da imprensa preconceituosa, segregadora e sedenta pela audiência de todos os grupos sociais, fazendo uma exibição cinematográfica, sensacionalista e irresponsável?
Precisamos nos sensibilizar mais com os crimes cometidos com Isabella Nardoni, Mércia Nakashima, entre outros. Isso significa o repúdio ao sensacionalismo barato e irresponsável. Contudo, devemos nos sensibilizar também com os crimes de outras vítimas que não fazem parte da classe média, não moram nos grandes centros urbanos e não têm sobrenomes importantes.
Quando deixamos a imprensa criminal nos sensibilizar com seus crimes-novela estamos inversamente nos tornando mais insensíveis porque esquecemos os arrabaldes, as comunidades periféricas, isto é, os outros espaços onde o crime também acontece com o mesmo sinistro, a mesma dor, as mesmas lágrimas e a mesma sede de justiça. Será que precisamos democratizar também a exibição dos crimes na imprensa televisiva?
O texto acima é de autoria de Arlan Eloi Leite Silva, Bacharel e Licenciado em História – UFRN, Pós-Graduando em Metodologia do Ensino de História e Geografia – UNINTER, Instrutor da disciplina História da PM no Centro de Formação e Aperfeiçoamento da Polícia Militar – CFAPM/RN, e Soldado da PM/RN.
(A imagem que ilustra o texto foi copiada do link Imagens Google.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário