terça-feira, 15 de junho de 2010

QUE SAUDADE DO ‘SEU ANDRÉ’

Há um ano o melhor pai do mundo entrava para a eternidade

Meu pai se chamava Francisco André Pereira e partiu para junto de Deus há um ano atrás. Foi casado com minha mãe, dona Maria, por mais de cinquenta anos. Tiveram dezoito filhos, dos quais doze permanecem vivos.

A morte de minha mãe (06/10/08) contribuiu para o agravamento dos problemas de saúde do meu pai. Ele, que por cinco décadas teve uma companheira fiel a seu lado, ao se encontrar sem a mesma caiu numa profunda tristeza.

No dia 15/06/09, exatos oito meses e nove dias após a ‘partida’ de minha mãe, “seu André”, meu pai, também se foi.

Hoje, em que se celebra um ano do seu falecimento, não consigo sentir tristeza. Que me perdoem os familiares, amigos ou leitores. Mas é porque meu pai sempre foi uma pessoa alegre, brincalhona, extrovertida e que gostava de prosear com todo mundo.

Às vezes me pego pensando nele e nas coisas engraçadas que fazia e dou boas gargalhadas. Quem o conheceu sabe do que estou falando.

Meu pai foi um homem bom, de coração humilde e que sempre ajudou a todos - mesmo os que não mereciam. Por causa dessa generosidade toda, chegou a levar várias broncas da minha mãe. E com razão.

Ele costumava emprestar tudo o que lhe pedissem: material de construção, ferramentas variadas, roupas, calçados, dinheiro, até os utensílios de cozinha! Muitas das pessoas que meu pai ajudava, devolviam os objetos que recebiam emprestados. Outros, no entanto, além de não devolverem, ainda falavam mal dele. Mas tudo bem, seu André não guardava rancor, parecia criança, e sempre tornava a emprestar.

Mas ele também tinha lá seus defeitos. Como algumas mulheres dizem até hoje, ele era um velho enxerido e sem-vergonha, e por causa disso fez raiva à minha mãe por diversas vezes. Mas ela, em vida, já o perdoou.

Uma das poucas coisas que tirava meu pai do sério era quando alguém o chamava de velho, senhor ou coisas do tipo. Ele não gostava. Nem quando os netos o chamavam de vovô. Dizia ele que só tinha trinta e poucos anos, e que por causa disso só “queria conversa com mulher nova”. Também achava ruim quando alguém pegruntava-lhe como andava a saúde. Ele dizia que não sentia nada. Colesterol alto, diabetes, hipertensão? Para ele era tudo besteira, tinha uma saúde de ferro.

Mas o que tornou sua marca registrada foram as promessas de presentes que ele fazia. Ele costumava prometer queijo, capote (galinha d’angola), carneiro, milho verde e novilho gordo das fazendas que dizia ter no sertão. Algumas pessoas até acreditavam. A maioria, conhecedora dos causos do meu pai, fingia acreditar, concordava com ele e agradecia a gentileza.

Depois que ele se foi muita gente sentiu sua falta, não apenas os familiares. Aquelas pessoas acostumadas com suas prosas, com seus empréstimos generosos ou presentes imaginários, perceberam que aquele senhor que animava suas vidas não existia mais.

Hoje, um ano após sua partida, não sinto tristeza, mas saudade e arrependimento. Saudade pelos bons momentos que passamos juntos e arrependimento por não ter desfrutado mais tempo com ele.

Meu pai teve muitos nomes, apelidos e alcunhas. Para uns era ‘seu André’, para outros era 'vô'André, ou tio André, ou padrinho, ou ainda compadre André, amigo, ou então velho enxerido. Mas para mim e os outros onze filhos ele não foi apenas um pai. Ele foi O MELHOR PAI DO MUNDO.