sábado, 14 de abril de 2012

Um ano na CAIXA (parte IV)

Um favorzinho para um amigo

Uma das desvantagens de se falar para seus amigos e colegas que você trabalha num banco é que eles passam a te pedir ‘favorzinhos’. E quando se trabalha num banco público então, nem se fala.

Tem gente que ainda acha que funcionário de instituição financeira tem poder para alguma coisa, como baixar taxa de juros, tirar multa por atraso, favorecer na hora de se conseguir um crédito. Coisas desse tipo.

Logo que entrei para a CAIXA fui trabalhar no SETOR COMERCIAL. Certo dia, numa conversa com colegas dos tempos que eu era da polícia, me perguntaram em que parte do banco eu estava atuando.

- Estou no Setor Comercial, aquele que faz atendimento para pessoas físicas: empréstimos consignados para funcionários públicos e aposentados, financiamento de veículos, cartões de crédito, CDC, FIES... Nem terminei de falar e já vieram me pedindo:

- Estou com o nome ‘sujo’ e preciso de um empréstimo. Tem como você fazer um favorzinho para um amigo?...

Mudei de agência (mas não de salário, tá?) e fui trabalhar no SETOR EMPRESARIAL. Tempos depois encontrei, numa outra ocasião, aqueles mesmos colegas da polícia. Certo de que me importunariam atrás de empréstimo, já fui logo dizendo.

- Agora estou trabalhando no setor de pessoas jurídicas. Abro contas e faço avaliação de crédito para micro, pequenas, médias e grandes empresas.

Pois não é que um gaiato me interpelou dizendo:

- Cara, tenho um pequeno negócio há uns tempos e estou precisando de um crédito para crescer. Tem como você fazer um favorzinho para um amigo?...

“Que droga”, pensei. Agora quando me perguntarem onde trabalho vou dizer que fui transferido para um setor que não faz empréstimos.

Um belo dia encontro por acaso com os mesmos colegas praças no shopping. Dessa vez esperei eles perguntarem em qual parte da agência eu estava atuando.

- E aí gerente (já repararam que quando alguém quer um favor seu sempre chega elogiando), ainda ‘tá’ trabalhando com empréstimo?

- Não, cara, agora estou trabalhando no ARQUIVO: organizando, arrumando, procurando e catalogando documentos de todas as operações que os clientes fazem na agência.

Senti um certo ar de tristeza no grupo. “Agora pequei eles”, pensei. Mas não é que um danado ainda insistiu:

- Estou precisando de um documento antigo do meu FGTS para dar entrada na justiça. Já fui no banco umas pouca de vezes mas acho que eles não querem dar. Tem como você fazer um favorzinho para um amigo?...


(A imagem acima foi copiada do link Sou Empresário.)