sábado, 11 de outubro de 2014

PAI E PSICÓLOGO


O menino chega ao consultório de um renomado psicólogo e sem pedir licença, entra.

- Paiêêêê...

- Agora não Joãozinho, responde o pai que atendia um paciente, papai está ocupado.

- Mas pai, é importante. Eu preciso de ajuda para um trabalho da escola.

O pai retira os óculos do rosto e reflete: “se eu não o ajudar agora ele vai continuar implicando; por outro lado, se o fizer, o paciente pode se sentir menosprezado. Mas se eu não ajudar meu filho, este não vai me deixar continuar com a consulta, mas..”

- Tudo bem, responde o paciente, eu não me incomodo em esperar. Também tenho filhos e sei o sufoco que é quando eles colocam uma ideia na cabeça.

O menino dá um sorriso e continua explicando:

- Pai, é para uma pesquisa da escola. A professora pediu para perguntarmos aos nossos pais sobre o que eles fazem nos empregos deles e qual a importância disso para a sociedade em geral.

- Tá bem Joãozinho, mas comece logo. Não tenho o dia todo.

O menino retira uma caneta e um caderno de anotações do bolso e inicia uma entrevista:

- O que o senhor faz?

- Sou psicólogo, que é o profissional formado em psicologia.

O menino vai anotando o mais rápido que suas mãozinhas conseguem.

- E o que é a psicologia, pai? Quer dizer, doutor!

- Ora, é a ciência que estuda o comportamento humano e...

- Mas como isso é possível, interrompe o menino, existem tantos comportamentos. Existe o comportamento de homem, de mulher, de criança, comportamento de idoso, de adolescente...

- Você está certo. Por isso a psicologia foi subdividida em outros grupos que se especializaram, cada um, na sua respectiva área: temos a psicanálise que estuda o subconsciente, tem a gestalt, tem a “sócio-histórica”, tem o behaviorismo que é aplicado na educação e no trabalho. Entendeu? Mas nunca se sabe o bastante sobre o comportamento e a mente do ser humano.

- Quer dizer que se eu me formar em psicologia não vou saber psicologia?

- Não... Você vai ter de escolher uma área na qual se especializar...

- Ah, bom... Mas se existem tantos ramos da psicologia, os “médicos” de cada área não brigam com os médicos das outras áreas?

- Não meu filho, veja bem: você lembra da União Soviética? Ela era composta por quinze repúblicas socialistas e autônomas entre si, e que obedeciam a um poder central. Essas repúblicas não brigavam entre si, pelo contrário, se ajudavam mutuamente. Do mesmo jeito é a psicologia e seus vários segmentos.

- Mas papai, quando a União Soviética se fragmentou as repúblicas que a compunham começaram uma disputa interna, cada uma querendo mandar nas outras...

- Foi, mas, na psicologia é diferente. Ela deriva da filosofia, ciência esta que deu origem a outras ciências como a política, o direito, a economia...

- Vem cá, a filosofia não foi fundada por aquele cara...

- Sócrates.

- Isso, que dizia que “só sei que nada sei...”

- É, mas ele tentava explicar com isso...

- E também diziam que ele era homossexual...

- Talvez.

- Você é gay, papai?

- Claro que não, menino! Você está entendendo tudo errado!

- É porque essa ciência é muito complicada.

- Não é. Olha, a psicologia está impregnada com as ideias dos seus estudiosos, por exemplo: se um psicólogo francês vai fazer uma pesquisa na área da psicologia social o resultado que ele encontrará será diferente do resultado encontrado por um estudioso norte-americano, entendeu?

- Mais ou menos. Quer dizer que se alguém é considerado louco aqui no Brasil pode não o ser lá na China?

- Não Joãozinho. Preste atenção. Você já estudou biologia. Lembra do sistema circulatório? Pois a psicologia segue o mesmo esquema. Não existe uma psicologia mais importante que a outra. Todas são importantes, trabalham unidas, uma complementa a outra e formam um vasto sistema de pesquisas do comportamento humano, entendeu?

- Sim, mas, e se esse sistema tiver uma parada cardíaca?

O psicólogo fica sem resposta. Percebendo a aflição do pai e achando que aquela entrevista não levaria a lugar nenhum, o menino pára de escrever e comenta:

- Tá bom pai, vou entrevistar a mamãe. Acho que o emprego dela é mais interessante.

Constrangido com aquela situação, o “doutor” psicólogo olha para o paciente e o convida:

- E então, vamos continuar a terapia?

André


(A imagem acima foi copiada do link Sintcvapa.)