
Quem pertence ao ambiente militar costuma dizer que há uma certa covardia dos oficiais para com os praças. Eu também pensava assim, até a última terça (25-05).
No militarismo, os praças são os militares compreendidos entre soldado até sub-tenente (ou sub-oficial, na Marinha). Os oficiais são aqueles compreendidos de segundo tenente a coronel, no caso das polícias, ou almirante, brigadeiro e general nos casos respectivos de Marinha, Aeronáutica e Exército.
Pois bem, no referido dia, ocorreu um jogo no estádio Machadão e o policiamento teve de ser reforçado. Os PM’s de folga foram convocados e, em troca, receberam um dinheiro extra, a conhecida D.O - diária operacional.
Quem atua nesses jogos sabe que o efetivo escalado deve se apresentar de duas a três horas antes da partida, e fica mais uma hora nas ruas entorno do estádio, depois do jogo, esperando a multidão de torcedores se dispersar. A preocupação tanto em se chegar antes, como ficar depois dos jogos, é para garantir a segurança nessas áreas e inibir a atuação das gangues e evitar confrontos entre as torcidas rivais.
Na partida da terça-feira passada tudo ocorreu na maior tranquilidade. A polícia fez um excelente trabalho e nenhuma briga ou ocorrência de natureza grave aconteceram.
Já era quase uma hora da manhã quando os últimos torcedores foram para casa e os policiais puderam, enfim, concluir o serviço. Um soldado, que tinha vindo para a missão pegando carona com outros colegas, se desencontrou dos mesmos e ficou sem condução para regressar para o quartel. Devido o avançado da hora e por estar numa região considerada perigosa - e contando apenas com uma arma velha de cinco tiros - o "SD" saiu pedindo carona aos demais companheiros que tinham participado daquela missão. Mas todos os veículos já estavam, ou cheios ou aguardando outros militares. Nosso amigo chegou, então, a um soldado da turma 2006, que dá serviço na Zona Norte, e pediu carona. Aí veio a covardia…
O soldado, sem se importar com a situação do outro colega de farda, negou a carona dizendo estar numa moto com outro praça. O dito soldado na verdade estava com outro SD, sim, mas ambos conduziam uma viatura pertencente à corporação. Ambos voltaram para suas respectivas casas e deixaram o coitado do outro praça abandonado à própria sorte.
Depois desse episódio revoltante, os dois SD’s foram questionados por outro soldado sobre o porque de terem esquecido o “guerreiro”. Sem ter como justificar o injustificável, os dois covardes apenas deram um sorriso amarelo, fizeram cara de rapariga e pediram segredo, como se isso fosse esconder a atitude mesquinha.
Fatos como o acima descrito são corriqueiros, infelizmente. Às vezes os praças reclamam das péssimas condições de serviço, dos políticos, dos oficiais, do sistema… mas se esquecem que eles mesmos nem se unem e nem defendem seus próprios interesses.
É por essas e outras que os praças raramente conseguem melhorias para sua classe. E com isso, continuam sendo manipulados e dominados por seus superiores hierárquicos e por pessoas de fora do militarismo.
O problema, na verdade, não está na covardia dos oficiais com os praças. Está na covardia dos praças com os próprios praças.
(A imagem acima foi copiada do link Google Images.)