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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

PLANTÃO AGITADO (II)

Lembranças de quando eu era PM...


Depois da meia-noite, quando eu pensei em tirar um cochilo, apareceu um doido querendo "quebrar tudo". Convidei-o, insistentemente, a se retirar. Ele só saiu depois de levar uns tapas. Depois veio um bêbado querendo fazer bagunça. Fiz o mesmo.    

Uma e quinze da manhã, um rapaz que caiu da moto vem para ser atendido. Entra no consultório, dá um sorriso para o enfermeiro, que retribui a educação.

- Você aqui de novo,  pergunta o enfermeiro.

Antes que o jovem responda, eu indago se ele conhece o enfermeiro. 

- Sim, é a quarta vez que caio de moto e sempre que venho aqui sou atendido por ele - responde o motociclista.

Duas da madrugada chegam duas irmãs bêbadas. Uma chora muito, a outra está mais calma. Explicam que estavam bebendo com amigos. Tudo estava indo bem, então precisaram ir ao banheiro e veio "um cachorro dos infernos, mandado pelo Satanás" mordeu o pé de uma delas e acabou com a noite.

Depois de contar essa aventura, a irmã que estava calma se altera e discute com o mototaxista que havia levado elas ao pronto-socorro. Diz que ele estava cobrando muito caro e pede para eu - policial, um homem da lei - conversar com ele. Fui conversar, pedi para baixar o preço, mas ele contra-argumentou que já havia explicado para elas que faria duas viagens. Mas as irmãs insistiram em vir juntas. Então ele, sabidamente, cobrou um pouco mais porque é mais arriscado sofrer acidente, e dá mais trabalho trazer duas passageiras na garupa da moto. Sem contar que ainda podia ter sido multado... Além do mais, o preço que ele cobrou não foi nem o dobro. O certo era cada uma ter pago uma 'passagem'.

Faz sentido. Concordei com a lógica do mototaxista e fui conversar com as moças. Expliquei que ele era pai de família, um homem honesto e trabalhador e que precisava ganhar o pão de cada dia para alimentar seus filhos. A moça que estava brava ficou tão emocionada que quase chora. Pagou até mais do que tinha sido cobrado.

Pouco tempo depois chega outra moça mancando. Pergunto se foi um cachorro que a mordeu. Ela diz que não. Estava em casa dormindo - morava sozinha - e sentiu alguém alisando suas pernas. Pensou que fosse uma assombração. Deu um pulo, caiu da cama e torceu o pé...  

Depois disso, tento tirar um cochilo num compartimento que fica debaixo da caixa d'água do hospital. Pois é. Nem acesso a um alojamento eu tive direito. Tratavam os policiais como cachorro. Mas tudo bem. Até que o local era confortável. Quase não tinha 'muriçoca'. Eu já estava quase dormindo, quando um barulho ensurdecedor me desperta. 

Era o motor que puxava água para encher a caixa d'água. Fui até o enfermeiro, disse o que estava acontecendo e ele, calmamente. me disse para não me preocupar. A caixa d'água demoraria umas três ou quatro horas para encher, depois disso o barulho parava. 

Só que quando isso acontecesse, já teria amanhecido e meu plantão acabado... Ele então ofereceu sua cama, mas agradeci a gentileza e dormi esparramado numa cadeira da recepção, puto da vida, porque não tinha estudado, não tinha dormido nada, não tinha comido direito, e ainda, não tinha comido ninguém.

No dia seguinte, mandaram uma viatura me apanhar - na verdade, ela tinha ido buscar uma prostituta que o capitão sustentava. Quando cheguei na companhia, o sargento me disse que o praça que dava serviço no hospital ia ficar uns dias de atestado e se eu quisesse, poderia ficar no lugar dele. No hospital, todos haviam elogiado meus serviços.


(A imagem acima foi copiada do link Portal do Dog.)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

PLANTÃO AGITADO (I)

Lembranças de quando eu era PM...

Enfermeiras: na nossa imaginação elas são assim, mas na prática...
Quando eu era policial militar passei por muitas situações dignas de registro. Umas trágicas, outras engraçadas, algumas apavorantes, outras excitantes... Quando estava de plantão, sempre eu levava meus livros e apostilas, escondia por debaixo da farda e quando tinha um tempinho, dava uma estudada.

Certa vez, fui escalado para dar plantão no Hospital de Macaíba, era dia 17/06/2007. Achei estranha a ideia. "Não sou médico nem enfermeiro", reclamei com o sargento que me escalou. Mas ele disse que o outro policial que ficava lá adoeceu e só tinha eu no momento. Meio relutante, acabei aceitando.

O sargento disse que o serviço lá era tranquilo. A comida era boa - a mesma que os médicos comiam -, dava para dormir a noite inteira, podia ficar paquerando as enfermeiras (quem sabe, comer alguma) e eu ainda poderia estudar. Na verdade, o que me convenceu foi este último argumento.

Acabei indo, pensando que tinha me dado bem. Certa vez outro praça havia me alertado que, quando um superior hierárquico viesse com a conversa de que o serviço era bom, era porque era uma furada. "Você já viu alguém querer nos ajudar? Só querem nos ferrar", disse ele. Infelizmente, ele estava certo.

Cheguei ao hospital 8:15 h. Não tinha viatura para me deixar e eu tive que pagar um mototáxi. Fui falar com o médico de plantão, que era diretor do hospital e ele já reclamou que eu estava quinze minutos atrasado. Passei o dia inteiro em pé, circulando pelos corredores, leitos, estacionamento... 

Das enfermeiras de plantão, duas tinham idade para ser minha avó, fumavam feito "caipora" e o terceiro era homossexual... Esse era o mais simpático comigo. Foi o único que me fez companhia na hora do almoço - que atrasou e estava frio. Os outros funcionários, incluindo zeladores e faxineiros, pareciam ter raiva de polícia.



(A imagem acima foi copiada do link Google Images.)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A CULPA É DA POLÍCIA

Durante o tempo em que fui policial militar passei pelas mais diversas situações. Algumas engraçadas, outras tristes, algumas pitorescas. Certo dia, aconteceu uma digna de registro, que compartilho a seguir: 



Brasileiro adora tecer comentários e fazer críticas sobre os mais variados assuntos - mesmo que não entenda nada a respeito. Temos o mal costume, também, de reclamar por serviços mal prestados a quem não tem nada a ver com a história.

Dentre as muitas situações vividas como servidor público selecionei uma digna de ser relembrada.

Estava eu e um colega trabalhando numa base comunitária da PM no bairro de Bela Vista 2, bairro este, disputado pelos municípios de Parnamirim e Macaíba. Éramos recém formados e sempre nos colocavam nos lugares onde os policiais veteranos não queriam ir.

A dita base comunitária era na verdade um depósito abandonado de um supermercado ao lado, cuja dona, querendo eleger-se vereadora e economizar com segurança privada, conseguiu policiamento para a área.

Não tinha nada na base: o patrulhamento era feito a pé, já que não havia viatura; o banheiro não funcionava; a água para higiene pessoal tinha que ser carregada de balde lá do mercadinho e a água para beber era conseguida de um vizinho homossexual que sempre dava em cima da gente.

A comida vinha de quentinha lá de Parnamirim. Uma viatura fazia a distribuição nas bases comunitárias e, como éramos os últimos do itinerário, a refeição sempre chegava fria e sem talheres.

Apesar das vicissitudes, levávamos o serviço a sério. A maioria das ocorrências que chegavam até nós eram resolvidas na conversa - que era tudo o que podíamos fazer. Mas um dia…

Uma senhora chega indignada lá na base. Reclamava que o país era uma bagunça, os políticos eram todos ladrões e que ninguém se importava com os pobres. O palavreado dela era tão forte que chamou a atenção dos que ali passavam.

Uma pequena aglomeração começou a se formar em torno daquela mulher. Aproximei-me da senhora e tentei acalmá-la; saber o que havia causado-lhe tamanha indignação. Mas ela não quis conversa, parecia estar gostando daquele espetáculo.

Foi então que uma conhecida da dita cuja chegou até mim e explicou que esta estava nervosa porque a filha doente não fora atendida num posto de saúde em Parnamirim por morar em Bela Vista - bairro pertencente a Macaíba.

Aproximei-me novamente da mulher e tentei consolá-la, mas antes que eu abrisse a boca ela gritou em alto e bom tom:

- E a culpa de tudo isso é da polícia, que não faz p@#* nenhuma!!!

Moral da história: naquele dia aprendi que: 

I - o Estado estava falido, não proporcionava saúde, educação, infraestrutura, absolutamente nada! Só cobrava impostos;

II - os policiais, que eram honestos e levavam a sério o juramento, deveriam "se virar", caso quisessem prestar um serviço de qualidade à população; 

III - as autoridades não se importavam com a polícia, a população não se importava com a polícia, a imprensa não se importava com a polícia, NINGUÉM se importava com a polícia;

IV - todos queriam que a polícia resolvesse seus problemas, mesmo que não tivesse nada a ver com as atribuições da polícia; e,

V - eu deveria sair da polícia...

(A imagem acima foi copiada do link Oficina de Ideias 54.)