Muitos me desejaram paz e amor em 75.
Mas havendo amor, haverá paz?
Amor é o contrário radioso dela.
É inquietação, agitação,
vontade de absorver o objeto amado,
temor de perdê-lo,
sentimento de não merecê-lo,
ânsia de dominá-lo,
masoquismo de ser dominado por ele,
dor de não o haver conhecido antes,
dor de não ocupar seu pensamento 24 horas por dia,
e mais dias a pedir ao dia para ocupá-lo,
brasa de imaginá-lo menos preso a mim do que eu a ele,
desespero de o não guardar no bolso,
junto ao coração,
ou fisicamente dentro deste,
como sangue a circular eternamente e eternamente o mesmo.
Amor é isso e mais alguma triste coisa.
E a tristeza incurável do tempo não passa fora de nós,
passa é dentro e na pele marcada da gente,
lembrando que eternidade é ilusão de minutos
e o ato de amor deste momento
já ficou mergulhado em ter sido.
Amor é paz?
Carlos Drummond de Andrade
(A imagem acima foi copiada do link Oficina de Ideias 54.)