Fragmento de texto a ser utilizado na disciplina (optativa) TEORIA DA NARRATIVA, da UFRN, 2019.2.
Teatro Amazonas: símbolo de uma época de ouro proporcionada pelo Ciclo da Borracha. |
Quando falamos em clímax
estamos a nos referir ao momento de maior tensão da narrativa, ou seja, quando
o conflito alcança seu auge de dramaticidade. Ora, na obra Dois Irmãos podemos
afirmar que não encontramos apenas um, mas alguns momentos de grande
tensão.
A personagem Lívia é
considerada o pivô do ódio entre os gêmeos. Esse ódio chega ao clímax
quando numa sessão de cinema, na casa de amigos, Lívia beija Yaqub,
por sua vez Omar, com raiva, corta o rosto do irmão com uma garrafa
quebrada. Outro momento de clímax se dá quando Domingas, antes de
morrer, revela ao filho Nael que este é fruto de um estupro cometido por
Omar. Outro ponto na trama merecedor do epíteto de clímax é quando o
indiano Rochiram, após sofrer pesado prejuízo ensejado por Omar,
pede a casa da família como pagamento.
Por fim, em toda narrativa que
se preze, temos o desfecho, que é quando os conflitos são resolvidos.
Todavia, em que pese o brilhantismo do autor Milton Hatoum, na breve
análise que fizemos da obra, observamos que, neste aspecto específico, o autor
deixou lacunas, situações não resolvidas.
Pode-se até mesmo dizer que o
desfecho acaba sendo algo um pouco deprimente, talvez decepcionante, que não
atendeu às expectativas do leitor. Não estamos com isso desmerecendo a obra,
muito pelo contrário. Acontece que da forma como a trama foi se desenrolando,
esperava-se que os irmãos fizessem as pazes. Pelo menos aparentemente, como no
conto machadiano Esaú e Jacó.
Ao contrário, Yaqub
morre sem ter feito as pazes com Omar. Domingas, mãe de Nael,
adoece e também morre, mas não antes de revelar ao filho que ele é fruto de um
estupro, praticado por Omar. Este, por sua vez, até encena um pedido de
perdão a seu filho Nael, mas recua. Até a casa, onde o patriarca Halim
se orgulhava de manter viva a tradição do país de origem da família (Líbano) é
reclamada em pagamento de dívida, pelo indiano Rochiram.
Até mesmo a cidade Manaus não
vive mais seus dias de glória. O autor deixa transparecer para o leitor mais
atento que, aquela que já viveu uma época de ouro, marcada pelo Ciclo da
Borracha, agora enfrenta um lento, porém inevitável, declínio.
Fonte: disponível em Oficina de Ideias 54.
(A imagem acima foi copiada do link Dicas Free.)
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