No início de 2009 um fato chocou a opinião pública brasileira: a gravidez de uma menina de nove anos no interior de Pernambuco. Ao acontecido, seguiu-se uma atitude ainda mais irracional, que também chocou a muitos: a Igreja Católica excomungou os médicos que fizeram o aborto na garota.
Num comunicado à imprensa a respeito do caso, Gianfranco Grieco, chefe do Conselho do Vaticano para a Família, disse: "A igreja não pode nunca trair sua posição, que é a de defender a vida, da concepção até seu término natural, mesmo diante de um drama humano tão forte, como o da violência contra uma menina".
Fiquei perplexo. O Vaticano condenou aqueles que salvaram a vida da criança e nada disse a respeito do estuprador. Os médicos, mocinhos na história, foram criticados pela igreja porque se recusaram a levar adiante uma prenhez gerada de um ato criminoso.
Não estou fazendo apologia ao aborto, mas analisando o caso pregunto-me até que ponto a Igreja Católica - uma instituição que prega a paz, o perdão e o amor ao próximo - ainda se deixa guiar por regras da época medieval. Para se ter uma ideia: o cânon 1398 prescreve a excomunhão automática em caso de abortamento. Ou seja, fazer aborto não pode. Violentar criancinhas, pode (?!).
Indago-me com que autoridade a igreja se investe para julgar tais casos. Logo ela que é conhecidíssima por escândalos sexuais envolvendo seus clérigos; logo ela que sempre fez vista grossa aos casos de pedofilia envolvendo padres…
Aliás, o que acontece com os vigários que molestam meninos nas casas paroquiais ou nos cantos das sacristias por esse mundo afora? São excomungados? Perdem a batina? Não, apenas são transferidos de paróquia. Talvez seja porque a política do Vaticano seja a de não excomungar estupradores.
Mas a Igreja Católica não é em todo culpada por ser tão arcaica e hipócrita. A culpa é nossa, católicos. Nós que somos complacentes com tamanha incoerência. Por que não reclamamos? Por que não nos manifestamos contra a igreja e a favor dos médicos? Por que nos calamos? Do que temos medo?
A verdade é que nos acostumamos tanto com a igreja, como instituição hierárquica, que nos esquecemos do que Jesus, seu percussor, ensinou: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos; não julgar para não ser julgado; denunciar as injustiças e os chefes desse mundo…
Parece que o Vaticano esqueceu esses preceitos básicos, e o que é pior, nós católicos também.
Hoje a igreja excomunga quem tenta salvar uma criança, e depois? Mandará hereges para a fogueira?
Precisamos rever nossos conceitos como humanos e como católicos, do contrário, voltaremos à era da Inquisição.
(A imagem acima foi copiada do link Rumo da Fé.)
7 comentários:
Não condene a decisão do bispo. Ele também sofreu para tomar a decisão. Não quero nem pensar em estar no lugar dele nesse momento...
Iiiiiiiiiii... vc ser escritor? Nem sabe do que fala. Qdo a Igreja excomunga quem faz o aborto livre e consciente nao significa que ela aprova pedofilia, estupro, etc. Que pena vc ser um católico sem formação, nao enytende nada da moral cristã, profundamente ética, bíblica e atual.
Oi Carlos André. Li seu texto e concordo com o que você disse. Não sou católico, mas acho que a auto-crítica é bem vinda em todo lugar. Acho que as pessoas deveriam se guiar pela fé, e não por interpretações equivocadas das Sagradas Escrituras. Parabéns pelo seu trabalho.
Alfredo
É Carlos, acho uma pena você ser um católico sem formação. Já pensou em ser um Evangélico Bem Informado?
Tema polêmico assim como é todos os temas que envolvem a religião e a política. A igreja católica já cometeu inúmeros absurdos em nome da Fé, a exemplo temos a "Santa Inquisição" que aniquilou milhares de pessoas durante a "Idade das Trevas". Ser católico não significa negar os horrores que a igreja cometeu no passado e nem colocar em baixo do tapete os erros do presente. Mas, os protestantes não ficaram atrás e também cometeram as suas inquisições em séculos passados; e pior, leem a bíblia, mas acham-se superiores aos demais credos uma vez que não perdem o péssimo hábito de "converter católicos" ou outras pessoas de diferentes credos - isso é um horror! Sobre o tema aborto a igreja tem os seus dogmas e o que fazer com os dogmas? Na verdade só quem é capaz de nos julgar é o Senhor nosso Deus, e só! Quem é o Papa a não ser um ser humano tal qual como nós - sujeito a erros e acertos? Divino, só Jesus Cristo e Deus! E estes médicos, certamente, passarão pelo julgamento de Deus e receberão a dádiva da absolvição ou não. Sendo uma filha minha, a igreja poderia me excomungar trilhões de vezes, eu usaria os meios legais para realizar o aborto. Uma CRIANÇA de 9 anos VIOLENTADA, ultrajada, estuprada não deve ser submetida a outra violência que põe em risco a sua própria vida. Aos críticos de plantão, ponham o caso em si e vamos ser menos hipócritas por favor.
Aborto,assunto bastante rentável, eu sou sim a favor do aborto quando um ser for resultado de um estupro, a menina - mulher carregar um "fruto" gerado de uma violência - como o estupro - tem de sim tirar do ventre dela e o irresponsável pelo ato ser condenado e pagar pelo que fez..Já comentei isto com algumas pessoas e as mesmas perguntaram a mim: "e se acontecesse com ti? Você abortaria? Eu disse que sim , sem arrependimentos, digo que salvo minha vida e pensem o que quiser.Não dou "corda" aos ignorantes...André ,eu concordo com o seu posicionamento,a sua opinião é sua opinião,pra mim é aceita e respeitada, não ligue para as críticas que apareceram ou vai aparecer...Deixe o que diga o que pensem o que fale...Eu sou católica e evangélica, aceito um pouco das duas religiões,como também , discordo das mesmas...
Resposta do leitor.
Abortar temas delicados, mesmo sendo uma tarefa dificil, é necessária, tendo em vista que devemos encarar as obscuridades a luz do dia. Contudo, acredito que deve ser tomado cuidado no sentido da abordagem em cada caso.
Claro que gera revolta saber de um aborto, sobretudo sendo consequencia de um crime de estupro. E aqui começamos. O título do texto dá a entender que a igreja catolica, direta ou indiretamente é complacente com isso, o que é totalmente errado.
Chamar a atenção de uma instituição milenar e sim, atrasada em alguns aspectos, é válido. Mas isso deve ser feito de maneira responsável. O canon da igreja citado diz respeito ao abortamento, a igreja também condena a violencia fisica e de todo tipo, mas não há como comparar um estupro com um abortamento da vida de um feto, são coisas diferentes.
É válido a questão da política de enfrentamento a pedofilia que, na igreja, deve ser melhorada. Mas isso não quer dizer que de todo a igreja está parada quanto a isso, inclusive, o papa francisco tem feito diversas reformas e por isso sofrido bastante perseguição. É possível tambem citar o outro lado.
Sugiro, por fim, um artigo sobre as recentes reformas da igreja no sentido de condenar padres acusados e condenados por pedofilia etc.
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