Publicado no El País, jornal diário espanhol. Parece que a imprensa brasileira não quer ou tem medo de falar do assunto. Não deixemos, pois, cair no esquecimento...
O caso do tríplex
Moro também manteve
conversas privadas com Dallagnol sobre o caso tríplex do Guarujá,
pelo qual Lula está preso há um ano em Curitiba. A reportagem dá os bastidores
da acusação e afirma que o procurador estava bastante inseguro quanto à
denúncia, especialmente após o episódio do Power Point, que ele apresentou em
uma entrevista coletiva, no qual acusava Lula de ser “maestro de uma grande
orquestra concatenada para saquear os cofres públicos” e “o comandante máximo”
do esquema de desvios da Petrobras. Apesar disso,
Lula não foi denunciado por formação de quadrilha e sim de corrupção passiva,
ativa e lavagem de dinheiro.
Isto foi tema da
troca de mensagens com Moro. “A denúncia é baseada em muita prova indireta de
autoria, mas não caberia dizer isso na denúncia e na comunicação evitamos esse
ponto”, escreveu o coordenador da Lava Jato ao juiz que iria julgar o caso.
“Não foi compreendido que a longa exposição sobre o comando do esquema era
necessária para imputar a corrupção para o ex-presidente. Muita gente
não compreendeu porque colocamos ele como líder para imperar 3,7MM de lavagem,
quando não foi por isso, e sim para imputar 87MM de corrupção”, completou,
referindo-se, no caso dos 87 milhões de reais, a propina que teria sido paga
pela OAS em contratos para obras da Petrobras.
O Intercept afirma
que dois dias após essa troca de mensagens, Moro respondeu: “Definitivamente,
as críticas à exposição de vcs são desproporcionais. Siga firme”. Quase um ano
após essa troca de mensagem, o juiz Moro considerou que o petista cometeu os
crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro ao ser o beneficiário de 3,7
milhões de reais em propina da construtora OAS no caso do tríplex do
Guarujá.
Força-tarefa
A força-tarefa da
Lava Jato respondeu prontamente a divulgação da reportagem do Intercept. Em nota, o Ministério
Público Federal do Paraná informa que seus membros foram vítimas da ação
criminosa de um hacker: “A ação vil do hacker invadiu telefones e aplicativos
de procuradores da Lava Jato usados para comunicação privada e no interesse do
trabalho, tendo havido ainda a subtração de identidade de alguns de seus
integrantes. Não se sabe exatamente ainda a extensão da invasão, mas se sabe
que foram obtidas cópias de mensagens e arquivos trocados em relações privadas
e de trabalho”.
Eles acreditam que
dentre as informações obtidas ilegalmente estão, inclusive, documentos e dados
sobre estratégias e investigações em andamento, além das rotinas pessoais e de
segurança dos integrantes da força-tarefa e de seus familiares. Os procuradores
confirmam que mantiveram, ao longo dos cinco últimos anos, “discussões em
grupos de mensagens, sobre diversos temas, alguns complexos, em paralelo a
reuniões pessoais que lhes dão contexto”.
Segundo a nota do
MPF, “vários dos integrantes da força-tarefa de procuradores são amigos
próximos e, nesse ambiente, são comuns desabafos e brincadeiras”. E destacam:
“Muitas conversas, sem o devido contexto, podem dar margem para interpretações
equivocadas. A força-tarefa lamenta profundamente pelo desconforto daqueles que
eventualmente tenham se sentido atingidos”.
Ainda de acordo com o
MPF, “nenhum pedido de esclarecimento ocorreu antes das publicações [do
Intercept], o que surpreende e contraria as melhores práticas jornalísticas”.
(A imagem acima foi copiada do link Oficina de Ideias 54.)