Apesar de ser uma instituição presente há 200 anos no Brasil, poucas pessoas sabem da sua atuação e muitos desconhecem a importância dos Fuzileiros Navais
No dia 07 de março de 1808, fugindo das ameaças dos exércitos de Napoleão Bonaparte, chegava ao Brasil a família real portuguesa. Tal acontecimento acarretou mudanças significativas para a vida da colônia, que agora seria a sede da Corte Lusitana.
Dentre as novidades trazidas pela família real, destacaram-se: a criação de um banco, a fundação de uma biblioteca (futuramente Biblioteca Nacional), a instalação da imprensa régia e a construção de um jardim botânico.
Junto com a família real (e ajudando na segurança desta) estavam componentes da Brigada Real da Marinha Portuguesa, que mais tarde deram origem ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil.
O CFN, como é chamado pelos que o compõem, completa este ano seu bicentenário. Mas ao contrário das outras instituições fundadas naquela época, é pouco conhecido e sua importância na história nacional, bem como sua atuação na atualidade, é desconhecida da maioria dos brasileiros.
Poucos sabem, por exemplo, que os Fuzileiros Navais fizeram expedições à Guiana Francesa (1808-1809) e através de combates sangrentos cooperaram para a tomada de Caiena, garantindo para o Brasil a anexação de um pedaço de terra que mais tarde daria origem ao atual estado do Amapá.
Eles também tiveram papel decisivo - nas batalhas navais e em terra - durante a Guerra do Paraguai e nas lutas pela consolidação da Independência.
Mais recentemente, servindo de observadores da Organização das Nações Unidas (ONU), atuaram em áreas de conflito como El Salvador, Bósnia, Ruanda, Moçambique, Honduras, Peru e Equador.
Como Força de Paz, os Fuzileiros Navais do Brasil estiveram em Angola e, atualmente, ajudam a restaurar a democracia no Haiti.
Em tempos de paz o CFN têm um papel importante na consolidação da democracia, no desenvolvimento da educação cívica, na defesa de nossas riquezas naturais, no patrulhamento de todo o território brasileiro e mar territorial (Amazônia Azul) e na segurança às embaixadas e autoridades brasileiras espalhadas pelo mundo.
Através das Ações Cívicos Sociais (ACISO) e de parcerias com outras esferas do poder público, os Fuzileiros Navais oferecem assistência médica, odontológica, farmacêutica, esportiva e recreativa para toda a sociedade, em especial às classes mais carentes.
Sob a égide do espírito de corpo, do companheirismo, da hierarquia e da disciplina, e tendo como lema a expressão latina ADSUMUS (sempre prontos), os Fuzileiros são uma tropa de pronto emprego.
Podem ser utilizados sob as ordens do presidente da república (comandante em chefe das Forças Armadas) em caso de conflito externo, grave ameaça aos interesses vitais e ao patrimônio natural do país, ou ainda, em atendimento a compromissos assumidos junto a organismos internacionais.
O treinamento de um Fuzileiro Naval é realizado de modo a condicioná-lo ao combate rápido, estratégico, silencioso e letal, em qualquer que seja o ambiente - daí eles serem chamados de combatentes anfíbios.
O Brasil, por ser um país de dimensões continentais e possuir variadas vegetações, climas e tipos de relevo, necessita de homens treinados para atuarem em qualquer um desses ambientes.
Forjados em árduo treinamento militar, dura pressão psicológica e intensos exercícios físicos, os Fuzileiros Navais realizam muito bem a difícil missão de proteger nosso território.
Os Comandos Anfíbios (Comanf), por exemplo, integrantes do Batalhão de Operações Especiais (Tonelero) são capacitados para o combate na selva, no ar, na caatinga, no mar, rios ou submersos e em montanhas, além do manuseio de explosivos. São empregados em áreas de risco muito elevado (onde ninguém se atreve a entrar) para resgatar pessoas ou materiais; retomar o controle de instalações; ou ainda despistar, sabotar ou destruir alvos inimigos.
O curso de preparação para os futuros “temidos e destemidos cães-de-guerra” é realizado em dois locais: Centro de Instrução e Adestramento de Brasília (CIAB), localizado no Distrito Federal; e no Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (CIAMPA), localizado em Campo Grande, RJ.
Após dezesseis semanas de exaustivo treinamento e disciplina rigorosa, os (poucos) que se formam tornam-se integrantes do serviço ativo da Marinha. Depois da formatura, os “guerreiros” farão parte da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE) ou serão transferidos para um dos vários Grupamentos de Fuzileiros Navais (GptFN) localizados em pontos estratégicos do território nacional:
- GptFN do Rio de Janeiro (RJ);
- GptFN de Natal (RN);
- GptFN de Salvador (BA);
- GptFN de Belém (PA);
- GptFN de Rio Grande (RS);
- GptFN de Ladário (MS);
- GptFN de Brasília (DF); e,
- Batalhão de Operações Ribeirinhas (Manaus - AM).
Caso cheguem a ingressar na FFE, os soldados recém-formados ficarão servindo em uma das Organizações Militares (OM's) subordinadas à primeira, que são:
- Divisão Anfíbia (DivAnf), composta por sete Batalhões:
- de Infantaria de Fuzileiros Navais (Riachuelo, Humaitá, e Paissandu);
- de Artilharia de Fuzileiros Navais;
- de Comando e Controle;
- de Blindados e pelo Batalhão de Controle Aerotático e Defesa Antiaérea; e,
- e pela Base de Fuzileiros Navais da Ilha do Governador;
- Tropa de Reforço (TrRef), que é formada:
- por três Batalhões (de Engenharia de Fuzileiros Navais, Logístico de Fuzileiros Navais, e de Viaturas Anfíbias) ;
- pelas Companhias de Polícia (CiaPol) e de Apoio ao Desembarque; e
- e pela Base de Fuzileiros Navais da Ilha das Flores;
- Comando da Tropa de Desembarque (ComTrDbq);
- Base de Fuzileiros Navais do Rio Meriti (BFNRM); e,
- Batalhão de Operações Especiais (Tonelero).
É interessante salientar que mesmo não estando o Brasil envolvido em nenhum conflito externo armado, o CFN efetua treinamento constante, repetitivo adestramento e permanente vigilância para rechaçar qualquer ameaça à nossa soberania, seja em terra, no mar ou no ar.
“O Brasil e os brasileiros podem esperar isto dos Fuzileiros Navais: a dedicação integral ao serviço da pátria, o adestramento constante e a prontificação para servir aos interesses nacionais. Como vem sendo nesses 200 anos e continuará sendo feito”, depoimento de um Fuzileiro Naval do serviço ativo da Marinha.