Continuação do resumo do texto "Sobre a Violência", de Hannah Arendt ( ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Dumará, 1994. Cap. 2.).
"(...) como observa Jouvenel: “O rei, que não é mais do que um indivíduo
solitário, depende muito mais do apoio geral da sociedade do que em qualquer
outra forma de governo”. Mesmo o tirano, o Um que governa contra todos, precisa
de ajudantes na tarefa da violência". p. 35
"(...) e a tirania, como descobriu Montesquieu, é portanto a mais
violenta e menos poderosa das formas de governo". p. 35
"(...) uma das mais óbvias
distinções entre poder e violência é a de que o poder sempre depende dos
números, enquanto a violência, até certo ponto, pode operar sem eles, porque se
assenta em implementos". p. 35
"A forma extrema de
poder é o Todos contra Um, a forma extrema da violência é o Um contra Todos. E esta última nunca
é possível sem instrumentos". p. 35
"Penso ser um triste reflexo do atual estado da ciência política que
nossa terminologia não distinga entre palavras-chave tais como “poder” [power], “vigor” [strenght], “força” [force],
“autoridade” e, por fim, violência (...). Utilizá-las como sinônimos indica não
apenas um certo desprezo pelos significados linguísticos, o que já seria grave
em demasia, mas também tem resultado em uma certa cegueira quanto às realidades
às quais elas correspondem". p. 36
"O poder corresponde à habilidade humana não apenas para agir, mas
para agir em concerto. O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a
um grupo e permanece em existência apenas na medida em que o grupo conserva-se
unido. Quando dizemos que alguém está “no poder”, na realidade nos referimos ao
fato de que ele foi empossado por um certo número de pessoas para agir em seu
nome". p. 36
"O vigor inequivocamente designa algo no singular, uma entidade
individual; é a propriedade inerente a um objeto ou pessoa e pertence ao seu
caráter". p. 37
"A força, que frequentemente no discurso quotidiano como um
sinônimo da violência, especialmente se esta serve como um meio de coerção,
(...) deveria indicar a energia liberada por movimento físicos ou sociais". p. 37
"A autoridade (...) pode ser investida em pessoas (...) ou pode
ser investida em cargos. (...) Sua insígnia é o reconhecimento inquestionável por aqueles a quem se pede que obedeçam;
nem a coerção nem a persuasão são necessárias. Conservar a autoridade
requer respeito pela pessoa ou pelo cargo. O maior inimigo da autoridade é,
portanto, o desprezo, e o mais seguro meio para miná-la é a risada". p. 37
"(...) a violência (...) distingue-se por seu caráter instrumental.
Fenomenologicamente, ela está próxima do vigor, posto que os implementos da
violência, como todas as outras ferramentas, são planejados e usados com o
propósito de multiplicar o vigor natural até que, em seu último estágio de
desenvolvimento, possam substituí-lo". p. 37
"Ademais, nada (...) é mais comum do que a combinação de
violência e poder. (...) Visto que nas relações internacionais, tanto
quanto nos assuntos domésticos, a violência aparece como o último recurso para
conservar intacta a estrutura de poder contra contestadores individuais (...),
de fato, é como se a violência fosse o
pré-requisito do poder, e o poder, nada mais do que uma fachada, a luva de
pelúcia que ou esconde a mão de ferro, ou mostrará ser um tigre de papel". p. 38
"Em um conflito de violência contra a violência a superioridade do governo
tem sido sempre absoluta; mas esta superioridade dura apenas enquanto a
estrutura de poder do governo está intacta – isto é, enquanto os comandos são
obedecidos e as forças do exército ou da polícia estão prontas para usar as
armas. (...) Onde os comandos não são mais obedecidos, os meios da violência
são inúteis". p. 39
"Jamais existiu governo exclusivamente baseado nos meios de violência.
Mesmo o domínio totalitário, cujo principal instrumento de dominação é a
tortura, precisa de uma base de poder – a polícia secreta e sua rede de
informantes". p. 40
"Homens sozinhos, sem outros para apoiá-los, nunca tiveram poder
suficiente para usar da violência com sucesso". p. 40
"(...) o poder é de fato a essência de todo governo, mas não a violência.
A violência é por natureza instrumental; como todos os meios, ela sempre
depende da orientação e da justificação pelo fim que almeja. E aquilo que
necessita de justificação por outra coisa não pode ser a essência de nada.
(...) O poder não precisa de
justificação, (...) precisa é de
legitimidade". pp. 40 - 41
"Poder e violência, embora sejam fenômenos distintos, usualmente aparecem
juntos. Onde quer que estejam combinados, o poder é, como descobrimos, o fator
primário e predominante". p. 41
"Substituir o poder pela violência pode trazer a vitória, mas o preço é
muito alto; pois ele é não apenas pago pelo vencido como também pelo vencedor,
em termos de seu próprio poder". p. 42
"Poder e violência são
opostos; onde um domina absolutamente, o outro está ausente. A violência
aparece onde o poder está em risco, mas, deixada a seu próprio curso, ela
conduz à desaparição do poder". p. 44
"(...) incorreto pensar o oposto da violência como a não-violência; (...)
A violência pode destruir o poder; ela é absolutamente incapaz de criá-lo". p. 44