Continuação de trechos do livro Eichmann em Jerusalém - Um Relato Sobre a Banalidade do Mal, escrito pela filósofa judia Hannah Arendt, o qual apresentei como trabalho final da disciplina de Sociologia e Antropologia, da turma 2016.2, do curso de Direito Bacharelado da UFRN. Excelente livro. Recomendo.
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Judeus prisioneiros em campo de concentração: ninguém parecia querer ajudá-los... |
XIV
PROVAS
TESTEMUNHAIS
Neste
capítulo Hannah Arendt inicia falando da tentativa da burocracia da SS em
destruir e falsificar documentos no intuito de esconder os anos de assassinato
sistemático dos judeus. A destruição de documentos ocorreu durante as últimas
semanas da guerra, numa clara tentativa de desespero dos nazistas.
O
departamento que Eichmann chefiava queimou todos os arquivos, contudo, isso de
nada adiantou muito, uma vez que parte da correspondência havia sido endereçada
para outros departamentos do Estado. Esses arquivos foram recuperados pelos
Aliados, e constituíram-se em provas mais que suficientes para contar ao mundo
as atrocidades da Solução Final.
Apesar
de ser judia e de ter fugido da Europa por conta da perseguição nazista, a
autora se mostra imparcial, ao relatar as dificuldades que o dr. Servatiu,
advogado de Adolf Eichmann enfrentou para defender seu cliente. Ela cita, por
exemplo, a pequena quantidade de documentos juntados pelo dr. Servatiu – 110 –,
enquanto os acusadores apresentaram cerca de 500.
Ela
também chega até a criticar o processo de julgamento, ao afirmar que Israel era
a única nação do mundo em que certas testemunhas de acusação não podiam ser
interrogadas pela defesa, e que as testemunhas de defesa não podiam ser
ouvidas.
Para
ela, o defensor de Eichmann não teve nem os meios, nem o tempo, nem os arquivos
do mundo e os instrumentos do governo à sua disposição para montar uma boa
estratégia de defesa. Segundo a autora, a principal limitação deste julgamento
– como acontecera à defesa dos nazistas em Nuremberg –, seria a falta de
assistentes para pesquisarem uma quantidade enorme de documentos e encontrar
qualquer coisa que pudesse servir de base para inocentar o acusado.
Mas
a prova mais importante do caso foi, sem sombra de dúvidas, o testemunho à
Corte do próprio Eichmann, que apesar da forte pressão sobre seus ombros, era
usualmente bastante calmo. Testemunharam, ainda, perante o tribunal cidadãos de
Israel, selecionados entre milhares de voluntários e testemunhas dos seguintes
lugares: Alemanha, Áustria, Praga, França, Holanda, Dinamarca, Noruega,
Luxemburgo, Itália, Grécia, Rússia Soviética, Iugoslávia, Romênia, Eslováquia,
Hungria, Polônia e Lituânia.
Quando perguntados se
alguém havia recebido ajuda, a maioria das testemunhas respondia que toda a
população parecia estar contra os judeus. “Dava para contar nos dedos de uma
mão os judeus escondidos por famílias cristãs”.