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terça-feira, 6 de março de 2018

"Só envelhece quem vive".


Nélida Piñon (1937 -): escritora brasileira, integrante e ex-presidenta da Academia Brasileira de Letras. 


(A imagem acima foi copiada do link Google Images.)

segunda-feira, 5 de março de 2018

"Gosto de palavras na cara. De frases que doem. De verdades ditas (benditas!). Sou prática em determinadas questões: ou você quer ou não".


Rachel de Queiroz (1910 - 2003): escritora, jornalista, tradutora, romancista e dramaturga cearense. Considerada a maior escritora do Brasil, em todos os tempos, foi também a primeira mulher a ocupar uma cadeira da Academia Brasileira de Letras.


(A imagem acima foi copiada do link Oficina de Ideias 54.)

quarta-feira, 12 de julho de 2017

SUJEITO INDIRETO



Quem dera eu achasse um jeito
De fazer tudo perfeito,
Feito a coisa fosse o projeto
E tudo já nascesse satisfeito.

Quem dera eu visse o outro lado,
O lado de lá, lado meio,
Onde o triângulo é quadrado
E o torto parece direito.

Quem dera um ângulo reto.
Já começo a ficar cheio
De não saber quando eu falto,
De ser, mim, indireto sujeito.

Paulo Leminski (1944 - 1989): escritor, poeta, professor e tradutor brasileiro.


(A imagem acima foi copiada do link Entretenimento Uol.)

quarta-feira, 10 de junho de 2015

"Quem promove o desenvolvimento de um país não é o seu governante, mas o seu povo, através da educação e do conhecimento".


Pedro Bandeira (1942 - ): escritor brasileiro. Com mais de 80 obras publicadas e cerca de 23 milhões de exemplares vendidos, ele é hoje o autor de literatura infanto-juvenil mais vendido no Brasil.

Algumas de suas obras: Alice no País da Mentira; A Contadora de Histórias; A Eleição da Criançada; A Onça e o Saci; É Proibido Miar; Gente de Estimação; Mais Respeito, Eu Sou Criança!; Minha Primeira Paixão; O Dinossauro Que Fazia Au-au; O Fantástico Mistério de Feiurinha; O Medo e a Ternura; Prova de Fogo; Uma Ideia Solta no Ar. 



(Imagem copiada do link EBC.)

sábado, 14 de março de 2015

“TIPO ASSIM...”

Tô ficando velho! Um dia destes, às 2 (horas) da manhã, peguei o carro e fui buscar minha filha adolescente, na saída de um show de rock.

Ela e as amigas estavam eufóricas e eu ali, meio dormindo, meio de pijama, tentei entrar na conversa:

- E aí, o show foi legal?

A resposta veio de uma mais exaltada no banco de trás:

- Cara! Tipo assim, foda!

E outra emendou:

- Tipo foda mesmo!

Fiquei tipo assim, calado o resto do percurso, cumprindo minha função de motorista.


Tô precisando conversar um pouco mais com minha filha, senão, daqui a pouco, vamos precisar de tradução simultânea. Pra piorar ainda mais, inventaram as redes sociais, essa praga da Internet, onde os adolescentes ficam horas e horas escrevendo abobrinhas uns pros outros, em código secreto que não leva a absolutamente nada.

Tipo assim:

“kct! vc tmb nunk tah trank, kra. Eh d+, sl. T+ Bjoks. Jubys”.

Em português:

“Cacete! Você também nunca está tranquila, cara. É demais, sei lá. Até mais, beijocas. Jubys”. Jubys, que deve ser pronunciado “diúbis”, é isso mesmo que você está imaginando, a assinatura. Só que o nome de batismo é Júlia, um nome bonito, cujo significado é “cheia de juventude”, que eu e minha mulher escolhemos, sentados na varanda, olhando a lua...

Pois, Jubys, é hoje essa personagem de cabelo cor de abóbora, cheia de furos na orelha, um monte de arames na cara, mais parecendo um bicho. Sem falar nas malditas pragas das tatuagens que tanto marginalizam os jovens.

Tô ficando velho!

Há anos tento convencer minha família a ver “Cantando na Chuva”, mas, sempre fica para depois. Um dia, cheguei entusiasmado em casa, com a fita de um filme francês que marcou minha infância: A Guerra dos Botões. Juntei toda a família para a exibição solene e a coisa não durou cinco minutos!

O guri foi jogar bola, Jubys inventou “um trabalho de história sobre a civilização greco-romana que tem que entregar, tipo assim, até amanhã, senão perde ponto”.

E até minha mulher, de quem eu esperava um mínimo de solidariedade, se lembrou que tinha um compromisso com hora marcada e se mandou. Fiquei ali, assistindo sozinho e lembrando do tempo em que eu trocava gibi.

Uma amiga me contou que o filho de 10 anos ficou espantado quando viu um telefone de discar. Sabe, telefone de discar? É, tipo assim, um aparelho sem teclas, geralmente preto, com um disco no meio, todo furado, onde cada furo corresponde a um algarismo. Esse aparelho serve para conversar com outras pessoas, como qualquer telefone comum.        

Há pouco tempo, João, meu filho de oito anos, pegou um LP e ficou fascinado! Botei pra tocar e mostrei a agulha rodando, dentro do sulco de vinil. Expliquei que aquele atrito gerava o som que estávamos escutando...

Mas aí, ele já estava jogando vídeo-game. Não é que ele seja desinteressado... eu é que fiquei patinando nos detalhes. Ele até que é bastante curioso e adora ouvir as “histórias do tempo em que eu era criança”.

Quando contei que a TV, naquela época, era toda em preto e branco, ele “viajou” na ideia de que o mundo todo era em preto e branco e só de uns tempos para cá as coisas começaram a ganhar cores.

Acho que, de certa forma, ele tem razão. “Tipo assim”...

A dúvida que me corrói é: “cara”, será que nosso país tem futuro com jovens “Tipo assim...” Tipo FODA???


Luís Fernando Veríssimo, com adaptações.


(A imagem acima foi copiada do link Helduakzeukesan.) 

quinta-feira, 5 de março de 2015

SE FOR...



Se for para esquentar, que seja no sol.

Se for para enganar, que seja o estômago.

Se for para chorar, que se chore de alegria.

Se for para mentir, que seja a idade.

Se for para roubar, que se roube um beijo.

Se for para perder, que seja o medo.

Se for para cair, que seja na gandaia.

Se existir guerra, que seja de travesseiros.

Se existir fome, que seja de amor.

Se for para ser feliz, que seja o tempo todo!!!  


Mário Quintana (1906 - 1994): poeta, tradutor e jornalista brasileiro.


(A imagem acima foi copiada do link Oficina de Ideias 54.)

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

QUADRILHA


João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na histَoria.


Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987), poeta, cronista e contista brasileiro. 


(A imagem acima foi copiada do link Cultura Mix.)

domingo, 19 de outubro de 2014

OS TRÊS MAL - AMADOS


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papeis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papeis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


João Cabral de Melo Neto (1920 - 1999), poeta e diplomata brasileiro. Nascido no Recife (Pernambuco), foi primo do poeta Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre. Membro da Academia Pernambucana de Letras e da Academia Brasileira de Letras, são algumas de suas obras: Pedra do Sono, Os Três Mal-Amados, Morte e Vida Severina, A Educação Pela Pedra, Auto do Frade, Agrestes, Tecendo a Manhã. 


(A imagem acima foi copiada do link Frases Globo.com.)

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

"TEM RAPARIGA AÍ?"

Belíssima crítica do saudoso Ariano Suassuna em defesa da autêntica cultura nordestina

'Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!'. A maioria das moças levanta a mão. Diante de uma plateia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são 'gaia', 'cabaré', e bebida em geral, com ênfase na cachaça. 

Esta cena, lamentável, se repete em qualquer festa onde uma destas bandas se apresentam. Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade. Para uma matéria que escrevi certa vez para festas de São João baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. 

Não vou nem citar letras, porque este texto é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém o culpado desta 'desculhambação' não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. 

E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. 

As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de 'forró'. Parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shorts começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo ético. 

Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo. 

Aqui o que se autodenomina 'forró estilizado' continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. 

Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem 'rapariga na plateia', alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é 'É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!', alguma coisa está muito doente. 

Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.


Ariano Suassuna (1927 - 2014): poeta, escritor e dramaturgo brasileiro. Nascido na Paraíba, foi um aguerrido defensor da cultura do Nordeste Brasileiro.  Fez parte da Academia Pernambucana de Letras, da Academia Paraibana de Letras e da Academia Brasileira de Letras. Sua obra mais conhecida é Auto da Compadecida, que, inclusive, virou filme. Outras obras: Uma Mulher Vestida de Sol; Os Homens de Barro; O Rico Avarento; O Santo e a Porca; O Romance d'A Pedra do Reino; O Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta; O Pasto Incendiado. 


(A imagem acima foi copiada do link Grande Rio FM.)

terça-feira, 16 de setembro de 2014

SONETO DE FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



Vinicius de Moraes (1913 - 1980), jornalista, diplomata, dramaturgo, poeta e compositor, um dos mais famosos - e dos melhores - ícones da cultura brasileira. Nasceu e morreu no Rio de Janeiro, a "Cidade Maravilhosa", grande inspiração de suas obras. Teve como principais parceiros na música Tom Jobim, Chico Buarque e Toquinho. Conhecido como um boêmio inveterado (amante do cigarro e do uísque) e um grande conquistador, Vinícius de Moraes casou-se nove vezes. Um gênio - e pegador!!!    


(A imagem acima foi copiada do link Escritores do Brasil.) 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

POESIA



Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento 
inunda minha alma inteira
 
Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987), poeta, cronista e contista brasileiro. 



(A imagem acima foi copiada do link Oficina de Ideias 54.)

domingo, 23 de junho de 2013

O MEU NIRVANA



No alheamento da obscura forma humana,
De que, pensando, me desencarcero,
Foi que eu, num grito de emoção, sincero
Encontrei, afinal, o meu Nirvana! 


Nessa manumissão schopenhauereana
Onde a Vida do humano aspecto fero
Se desarraiga, eu, feito força, impero
Na imanência da Idéa Soberana!  


Destruída a sensação que oriunda fora
Do tacto - ínfima antena aferidora
Destas tegumentárias mãos plébeas - 


Gozo o prazer, que os anos não carcomem,
De haver trocado a minha forma de homem
Pela imortalidade das Idéas!



Augusto dos Anjos, nome pelo qual ficou conhecido o paraibano Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884 - 1914). Professor e grande poeta identificado por uns como simbolista ou parnasiano, e por outros, como pré-modernista.



(A imagem acima foi copiada do link Monte de Palavras.)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

RECORDO AINDA…

Recordo ainda… E nada mais me importa…
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas ai,
Embora idade e senso eu aparente,
Não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai...
Que envelheceu, um dia, de repente!...


Mário Quintana (1906 - 1994), jornalista e poeta brasileiro.


(A imagem acima foi copiada do link Images Google.)

terça-feira, 4 de maio de 2010

TRAIÇÃO


Mirtes não se aguentou e contou para a Lourdes:
- Viram teu marido entrando num motel.
A Lourdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto, durante um minuto, um minuto e meio.
Depois, pediu detalhes.
- Quando? Onde? Com quem?
- Ontem. No Discretíssimu's.
- Com quem? Com quem?
- Isso eu não sei.
- Mas como ? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?
- Não sei, Lu, não sei mesmo!!
- Carlos Alberto me paga. Ah, se me paga!
Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lourdes anunciou que iria deixá-lo e contou por que.
- Mas que história é essa, Lourdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você!
- Pois é... Maldita hora em que eu aceitei ir. Discretíssimu's!! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.
- Pois então?
- Pois então, que eu tenho que deixar você, não é? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.
- Mas você não foi enganada. Quem estava lá comigo era você!
- Mas elas não sabem disso!
- Eu não acredito, Lourdes! Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Para manter uma convenção social?
- Vou!!
Mais tarde, quando a Lourdes estava saindo de casa, com as malas, o Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio:
- Acabo de receber um telefonema - disse. - Era o Dario.
- O que ele queria?
- Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.
- O que?
- Você foi vista saindo do motel Discretíssimu's ontem, com um homem.
- O homem era você!
- Eu sei, mas eu não fui identificado.
- Você não disse que era você?
- O que? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?
- E então?
- Desculpe, Lourdes, mas...
- Mas o quê???
- Vou ter que te dar uma surra...

Luiz Fernando Veríssimo (1936 - ), escritor, tradutor, autor de teatro e músico brasileiro.


MORAL DA HISTÓRIA:
Devemos cuidar apenas da nossa saúde, pois da nossa vida, todo mundo cuida...


(A imagem acima foi copiada do link Tecno Cientista.)