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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

DOIS IRMÃOS - ANÁLISE (III)

Fragmento de texto a ser utilizado na disciplina (optativa) TEORIA DA NARRATIVA, da UFRN, 2019.2.

Teatro Amazonas: símbolo de uma época de ouro proporcionada pelo Ciclo da Borracha.

Quando falamos em clímax estamos a nos referir ao momento de maior tensão da narrativa, ou seja, quando o conflito alcança seu auge de dramaticidade. Ora, na obra Dois Irmãos podemos afirmar que não encontramos apenas um, mas alguns momentos de grande tensão. 

A personagem Lívia é considerada o pivô do ódio entre os gêmeos. Esse ódio chega ao clímax quando numa sessão de cinema, na casa de amigos, Lívia beija Yaqub, por sua vez Omar, com raiva, corta o rosto do irmão com uma garrafa quebrada. Outro momento de clímax se dá quando Domingas, antes de morrer, revela ao filho Nael que este é fruto de um estupro cometido por Omar. Outro ponto na trama merecedor do epíteto de clímax é quando o indiano Rochiram, após sofrer pesado prejuízo ensejado por Omar, pede a casa da família como pagamento.

Por fim, em toda narrativa que se preze, temos o desfecho, que é quando os conflitos são resolvidos. Todavia, em que pese o brilhantismo do autor Milton Hatoum, na breve análise que fizemos da obra, observamos que, neste aspecto específico, o autor deixou lacunas, situações não resolvidas.

Pode-se até mesmo dizer que o desfecho acaba sendo algo um pouco deprimente, talvez decepcionante, que não atendeu às expectativas do leitor. Não estamos com isso desmerecendo a obra, muito pelo contrário. Acontece que da forma como a trama foi se desenrolando, esperava-se que os irmãos fizessem as pazes. Pelo menos aparentemente, como no conto machadiano Esaú e Jacó.

Ao contrário, Yaqub morre sem ter feito as pazes com Omar. Domingas, mãe de Nael, adoece e também morre, mas não antes de revelar ao filho que ele é fruto de um estupro, praticado por Omar. Este, por sua vez, até encena um pedido de perdão a seu filho Nael, mas recua. Até a casa, onde o patriarca Halim se orgulhava de manter viva a tradição do país de origem da família (Líbano) é reclamada em pagamento de dívida, pelo indiano Rochiram.


Até mesmo a cidade Manaus não vive mais seus dias de glória. O autor deixa transparecer para o leitor mais atento que, aquela que já viveu uma época de ouro, marcada pelo Ciclo da Borracha, agora enfrenta um lento, porém inevitável, declínio. 

Fonte: disponível em Oficina de Ideias 54.

(A imagem acima foi copiada do link Dicas Free.)

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

ESAÚ E JACÓ - COMENTÁRIOS (II)

Breve comentário da obra Esaú e Jacó, de Machado de Assis. Fragmento de texto a ser apresentado na disciplina Teoria da Narrativa, do curso de Letras, da UFRN, semestre 2019.2.


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Outro ponto que merece destaque em Esaú e Jacó, que é também um traço marcante da obra machadiana, é que o autor aborda grandes temas que acompanham a humanidade: amor, amizade, traição, fofoca, medo, romance, sentimentos, intrigas. E tais assuntos são atemporais.

Deve ser por isso que o livro nos envolve, cativa e prende nossa atenção. Suas cerca de duzentas páginas parecem fluir livremente, envolvendo o leitor na trama, suscitando questionamentos, aguçando a curiosidade, causando um pouco de tensão e deixando algumas lacunas para serem preenchidas pelo próprio leitor.

Assim, Esaú e Jacó acaba nos parecendo uma história familiar, como se tivesse passado conosco ou com alguém próximo de nós. A obra, pois, torna-se atual, moderna, e olha que foi escrita há 115 anos!

Outro ponto que nos chama a atenção é o fato de Machado de Assis lançar mão de relatos históricos, acontecidos no período de efervescência social/política que foi a passagem do século XIX, para o século XX, aqui no Brasil. Um desses acontecimentos, por exemplo, é o chamado Baile da Ilha Fiscal, narrado pelo autor. Neste baile se fizeram representar a elite da monarquia e, historicamente, foi o último baile do chamado Brasil império.

A efervescência social/política pela qual o país passava envolve, inclusive, os dois irmãos gêmeos, Pedro e Paulo. Esse verdadeiro burburinho social é brilhantemente utilizado pelo autor para, a um só tempo, representar as duas correntes políticas que despontavam na época, mas também a indecisão da sociedade frente a tais correntes, representada na figura da “jovem misteriosa, firme e ingênua”, Flora.

Enquanto Pedro é conservador e apoia o atual regime (Monarquia), Paulo tem ideias liberais e apoia a República. Os dois irmãos também escolhem profissões distintas: Pedro faz medicina e Paulo, direito. O romance termina com a eleição dos gêmeos ao cargo de deputado, mas cada um por um partido diferente, os quais são diametralmente opostos. Como dito alhures, a jovem Flora morre.  

Outro ponto interessante da obra é que o autor descreve, sucintamente, tanto os locais (cenários) quanto as personagens. No que tange aos primeiros, além da minuciosa descrição física, Machado de Assis também faz um apanhado histórico, uma espécie de retrospectiva, mencionando a importância de determinado objeto/local no desenrolar da trama (tabuleta velha, no capítulo XLIX).



(A imagem acima foi copiada do link O Prazer da Literatura.)