segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

"NÃO CONTA PARA NINGUÉM QUE ME VIU POR AQUI"

Às vezes, quando você oculta algo, pode acabar descobrindo que tem alguém próximo a você escondendo um segredo ainda maior...

Em 2003 eu fiz escondido de todo mundo o concurso para Fuzileiro Naval da Marinha do Brasil. Tomei essa decisão por uma série de motivos, os quais não serão explicados agora.

Ora, é sabido que todo concurso público que se preze é formado de várias etapas: prova escrita, prova de títulos, teste físico, exame psicológico... E um concurso no qual seriam escolhidos os melhores soldados das forças armadas brasileiras, não seria diferente.

Pois bem, não é que eu fiz e passei - muito bem passado - no tal concurso!!! Aí veio um problemão: como eu ia esconder de todos, da minha família principalmente, minhas idas à Fortaleza para a realização das demais etapas do processo seletivo?

Por sorte, na época, minha mãe revendia cuecas, calcinhas e sutiãs produzidos por uma tia minha, a querida tia "Pequena". O dinheiro das vendas mamãe ia deixar pessoalmente à minha tia, em Fortaleza. Todo fim de mês era sagrado. Lá estava a "dona Maria" viajando para a capital entregar o dinheiro das vendas.

Mas minha mãe vez por outra reclamava que a viagem era cansativa e desgastante. Eu, que não sou bobo, sugeri: "Por que a senhora não me dá o dinheiro? Eu vou até lá e entrego pessoalmente". Ela concordou.

Dessa forma fiz tudo o que me fora exigido no processo seletivo: providenciei exames de saúde, documentos pessoais e escolares, fiz os testes físicos e psicológicos, sem ninguém desconfiar de nada. Mas um belo dia...

Estava eu no terminal de ônibus da Parangaba quando avisto uma garota  de Aracoiaba, minha cidade. Na hora quase entrei em pânico. "Agora vai tudo por água abaixo", pensei. "Ela vai contar que me viu por aqui. Todo mundo vai descobrir e meu segredo será revelado. E se ela quiser me chantagear?"

Tentei me esconder, mas a danada me viu e foi falar comigo. Ela estava acompanhada de um cara. Namorado? Amigo? Colega de escola? Ambos se encontravam de cabelos úmidos. Mas não estava chovendo... Que estranho. E qual não foi minha surpresa quando ela se aproximou de mim e, sem nem dar um bom dia, comentou:

- André, não conta para ninguém que me viu por aqui.

Fiquei extasiado. Por um momento pensei que ia ser descoberto. Mas a safada estava fazendo coisa pior - e bem pior - do que eu. Num momento passei de caça a caçador. Agora, se eu quisesse, poderia chantageá-la. Mas não sou disso.

Por questão de ética, caros leitores, não vou dizer quem era a jovem. Só sei que, em Aracoiaba, todos a tinham como moça direita, de família tradicional. O pai, metido a rico, pagava cursinho caro para ela em Fortaleza. A mãe, vivia se gabando que a filha era 'moça' e ia se casar virgem...

Ao ouvir o pedido da jovem, dei um sorriso sarcástico. Um misto de alívio e ironia. E completei.

- Pode deixar, fulana, seu segredo está bem guardado comigo.

O tempo passou, eu entrei para os fuzileiros navais e, até onde eu soube, essa menina continuava com a fama de boa moça na cidade natal. Mas quando ia 'estudar' em outra cidade...   


(A imagem acima foi copiada do link Oficina de Ideias 54.)

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