Para quem gosta de cinema e de História...
Para Henry Louis Gates Jr.,
professor de História da Harvard University, uma das grandes conquistas
dos ativistas foi a mudança de paradigma no que concerne à desobediência das
leis segregacionistas. Ser preso, defendendo a causa dos negros, passou a ser
algo nobre; eles estavam dispostos a apanhar pela democracia. Foi uma virada
pacífica fenomenal contra o opressor.
Mas nem tudo eram flores. Os
afro descendentes continuaram sofrendo perseguições e, nas manifestações
públicas pacíficas eram confrontados pela polícia, que os atacava com cães,
bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes e fortes jatos de água de mangueiras de
incêndio. O aparelho opressor do Estado pouco se importava se nessas marchas
pacíficas se encontravam crianças, mulheres e idosos. Todos apanhavam.
Infelizmente, à medida que o
movimento dos direitos civis foi ganhando força, as taxas de criminalidade
começaram a disparar em todo o país. Para Michelle Alexander, educadora
e autora (The New Jim Crow) foi muito cômodo para a classe política afirmar que
o movimento dos direitos civis contribuía para a escalada da criminalidade. Ela
critica esses pseudo representantes da democracia, pois diziam que o preço a se
pagar, como nação, pelas liberdades civis dos negros seria o crime.
Ora, a população carcerária dos
Estados Unidos se manteve praticamente estável durante a maior parte do século
XX. Mas isso mudou nos anos de 1970...
Nessa época, começou uma era
para a qual os estudiosos do assunto cunharam a expressão encarceramento em massa. Sob a falácia do discurso da “Law and
order” (lei e ordem), propagado pelo então presidente Richard Nixon
(1913 - 1994), os cidadãos americanos ‘de cor’ superlotaram o sistema
penitenciário. Não é por acaso, como foi dito, que justamente na década de
1970, o índice de encarceramento, que tinha se mantido praticamente estável por
mais de cem anos, começou a subir vertiginosamente.
Os números não mentem, e os
produtores do documentário A 13ª Emenda fazem questão de mostrar: em 1970, a população carcerária dos EUA era
de 357.292 internos. Como esclarece Angela Davis, professora emérita
da UC Santa Cruz, durante a era Nixon, no chamado período “Law and
order” o crime começou a ocupar o lugar da raça.
Para James Kilgore, autor
que já foi severamente encarcerado e que, portanto, entende bem o
encarceramento, o discurso de Nixon de guerra ao crime é falacioso. Para
o autor, o discurso disfarçava um modus operandi, a ser perpetrado não
contra os criminosos em si, mas contra determinados grupos previamente
selecionados. Esses grupos eram de movimentos políticos negros da época, dentre
eles: Black Power, Panteras Negras, o movimento antiguerra, movimentos
pacifistas, movimentos de liberação feminina e gay.
Outro momento que representou uma
grande etapa do encarceramento em massa foi a política de “guerra contra as drogas”,
também do governo Nixon. A ênfase da administração federal em combater a
dependência química e o vício em drogas ilícitas, não como um problema de saúde
pública, mas como uma questão de segurança pública, deu ensejo a outro grande
ciclo de encarceramento em massa. Milhares de pessoas, a maioria negros ou de
baixa renda, foram parar atrás das grades, por simples posse de maconha (mesmo
que em pequena quantidade) ou delitos leves.
Segundo Khalil G. Muhammad,
professor de História, Raça e Políticas Públicas, da Harvard University, o
Governo conseguiu incutir na cabeça das pessoas a associarem o caos nos centros
urbanos aos movimentos pelos direitos civis. Isso, por si só, representou um
retrocesso histórico nos movimentos de direitos civis.
E não para por aí. Um alto
membro do governo Nixon chegou a admitir que o foco da chamada “guerra
às drogas” era prender negros. Como estratégia de campanha eleitoral, eles
venderam para os eleitores a ideia de associarem os hippies à maconha e os
negros à heroína. Assim, o Estado, através do seu aparato opressor (a polícia),
poderia intervir nessas comunidades sem sofrerem censura por parte da opinião
pública.
O primeiro resultado
prático disso veio com os números, e como sabemos, os números não mentem. A população carcerária em 1980 era de
513.900 encarcerados.