Excelente documentário, recomendo.
Com Ronald Reagan (1911 -
2004) na Casa Branca, contudo, a situação não mudou. Enquanto para Nixon
a guerra às drogas era retórica, para Reagan ela se tornou real. A guerra
moderna às drogas foi declarada por Ronald Reagan em 1982, que se referia
a ela como uma cruzada nacional.
Havia uma crise econômica nos
Estados Unidos nessa época e, numa tentativa talvez de estabelecer um Estado
mínimo, foi feitos ataques frontais a toda estrutura dedicada a ajudar os seres
humanos: sistema educacional, previdência, sistema de saúde, empregos,
programas governamentais de assistência.
Com o discurso de expandir a
capacidade produtiva das empresas norte-americanas, o Governo conseguiu tornar
os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. O número de americanos abaixo da
linha da pobreza chegou ao ápice em duas décadas.
A administração federal conseguiu
incutir na cabeça das pessoas um medo tão grande (do terrorismo, da violência,
das drogas), que o Governo conseguiu aprovar leis cujas penalidades para o
consumo de drogas eram bem mais rígidas. O tempo de encarceramento também
aumentou. O Estado estava focando nas consequências do problema, não na causa.
O resultado: mais pessoas
presas, principalmente negros e latinos, cujas sentenças eram bem mais altas. Shaka
Senghor, ativista e ex-presidiário desabafa em tom de ironia: “Se você for
pego com drogas e for negro, pode passar o resto da vida na cadeia. Se for
branco, leva um tapinha na mão”.
Pat Nolan, também ativista e ex-presidiário diz que de repente, uma foice passou
pelas comunidades afro descendentes, cortando homens de suas famílias. Literalmente,
muitos cidadãos foram tirados do convívio social e desapareceram nas
penitenciárias. A chamada era do encarceramento em massa estava criada, fruto
da política de Reagan.
Basicamente, o que Reagan
fez foi pegar o problema da desigualdade econômica, da hipersegregação nas
cidades americanas, e do abuso de drogas e criminalizar tudo isso na forma da “guerra
às drogas”.
Isso violou completamente o
senso de justiça... No documentário A 13ª Emenda os ativistas são quase
unânimes em afirmar que a famigerada “guerra às drogas” foi, na verdade, uma
guerra às comunidades negras e latinas. Isso quase beirou o genocídio nas
comunidades das pessoas ‘de cor’.
Falando novamente em números, o
documentário mostra com dados oficiais que em
1985 o número de encarcerados nos EUA subiu para 759.100 presos. Mas, pior
que isso, a “guerra às drogas” se tornou parte da cultura popular, como
mostrado na TV, em telejornais e seriados. Quando o telespectador ligava o
aparelho de televisão para assistir ao noticiário à noite, o que via era um
desfile de pessoas negras, algemadas, sendo levadas presas. Para a ativista Malkia
Cyril, costuma-se dar mais ênfase no noticiário aos criminosos negros do
que aos brancos. Já virou uma espécie de clichê na mídia: personificar as
pessoas negras e pardas como animais em jaulas.
Ainda para o ativista Cory
Greene, esse papel negativo da mídia causa um medo nas pessoas de tal forma
que elas passam a aceitar o ‘descarte’ de outros seres humanos, como uma medida
de prevenção e proteção. Ao fazer isso, a mídia está praticando um desserviço à
sociedade, criando uma atmosfera de pânico, que em nada ajuda na questão da
criminalidade.
Outro ponto crucial que a
cultura do medo dos negros vem provocando é que, na própria comunidade dos afro
descendentes, há aqueles que simpatizam e aprovam o encarceramento de outros
negros. Como esclarece a advogada Deborah Small, muitas comunidade afro
americanas apoiaram políticas que criminalizavam suas próprias crianças.
O estereótipo do negro como
criminoso chegou a tal ponto que o simples fato de ser detido como suspeito já
acarreta numa condenação, pressionada pela opinião pública. No documentário A
13ª Emenda vemos casos de erros judiciais que prejudicaram negros. Em um
deles, alguns jovens foram presos por suspeita de estupro – três deles menores
de 18 (dezoito) anos. Passaram até 6 (seis) anos presos e depois, um exame de
DNA comprovou que eram todos inocentes. Na época Donald Trump (hoje
presidente dos EUA) chegou a escrever um artigo, onde pedia com veemência a
pena de morte para todos os jovens.
(A imagem acima foi copiada do link Metrópoles.)