O documentário mostra também
recortes de jornal, gravuras e charges da época com cenas de negros atacando
‘cidadãos’ brancos e violentando mulheres brancas. Toda essa propaganda
racista, contendo um explícito discurso de ódio direcionado para um grupo
específico, redundou na crença, até hoje arraigada na cultura norte-americana,
de que pessoas ‘de cor’ são, por natureza violentas e mais propensas à
criminalidade.
Figuras negras afáveis da
literatura americana, como o Tio Remus, personagem fictício criado por Joel
Chandler Harris, cujas histórias eram muito parecidas com as Fábulas de
Esopo e Jean de La Fontaine, foram substituídas pela imagem de
negros ambiciosos, maldosos e ameaçadores. Uma personagem sórdida, que
precisava ser banida do seio da sociedade americana, a qualquer custo. E foi o
que aconteceu.
O longa metragem faz menção ao filme
O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation), de 1915, que enaltece
a escravatura e justifica a segregação racial. N’ O Nascimento de Uma
Nação é mostrada a fundação da organização racista Ku Klux Klan, e
os afro-americanos são retratados como uma raça inferior, sexualmente
agressivos em relação às mulheres brancas e propensos à criminalidade.
O Nascimento de Uma Nação foi aclamado pelo público da época (elite,
políticos, classe artística), pois retratava uma realidade que muitos queriam
dizer, mas não tinham coragem de contar. O próprio presidente americano da
época, Woodrow Wilson (1856 - 1924), teria assistido o filme numa
exibição privada na Casa Branca (sede do governo). Todavia, toda imagem ou
menção aos negros feitas no filme é de teor depreciativo.
Eles são retratados como bichos,
figuras animalescas e canibalescas. Alguns dos atores que interpretaram afro-americanos
sequer eram negros, mas atores brancos, com os rostos pintados de preto. Isso
passava uma imagem ainda mais pitoresca. Numa das cenas de O Nascimento de
Uma Nação uma mulher branca se joga de um penhasco para não ser violentada
por um criminoso negro. No filme os negros são vistos como uma ameaça, um
perigo para as mulheres brancas. O impacto que isso causa no inconsciente
coletivo é devastador. A partir dessa exibição são criados mitos depreciativos
contra os negros, dentre eles, o de que homens ‘de cor’ são estupradores.
Ora, a elite política branca e
os estabelecimentos comerciais precisavam de negros trabalhando. Tais grupos em
muito se beneficiaram com esses pseudo mitos, uma vez que eram quem mais
demandavam mão de obra presidiária.
O documentário A 13ª Emenda
acerta mais uma vez ao mencionar o filme O Nascimento de Uma Nação. Como
exposto no documentário, o filme foi um prelúdio no que se tornaria a questão
racial nos Estados Unidos moderno. Pode-se inferir que O Nascimento
de Uma Nação foi o responsável pela criação do grupo racista de extrema
direita Ku Klux Klan, pois a retratou como uma organização heroica,
romântica, entusiasta e esplendorosa. Em nada se comparando com a sua atuação,
cuja brutalidade é vista nos assassinatos, estupros e linchamentos públicos
contra os afro descendentes. Tivemos um macabro caso de vida imitando a arte...
Seguida à criação da Ku Klux
Klan, tivemos uma onda de terrorismo contra os negros por todo os Estados
Unidos. Até a Segunda Grande Guerra Mundial milhares de afro-americanos foram
perseguidos, torturados e mortos por quadrilhas, sob o pretexto que tinham
cometido algum tipo de crime. Isso mesmo, os negros eram sumariamente
executados, sem direito a qualquer mecanismo de defesa.
(A imagem acima foi copiada do link O Trabalho PT.)