O
que mais dói não é sofrer saudade
Do
amor querido que se encontra ausente
Nem
a lembrança que o coração sente
Dos
belos sonhos da primeira idade.
Não
é também a dura crueldade
Do
falso amigo, quando engana a gente,
Nem
os martírios de uma dor latente,
Quando
a moléstia o nosso corpo invade.
O
que mais dói e o peito nos oprime,
E
nos revolta mais que o próprio crime,
Não
é perder da posição um grau.
É
ver os votos de um país inteiro,
Desde
o praciano ao camponês roceiro,
Pra
eleger um presidente mau.
No texto acima, Patativa do Assaré (1909 - 2002) nos presenteia com uma reflexão na qual exibe um lamento por conta de escolhas infelizes de representantes políticos, eleitos pelo povo.
De maneira brilhante, o poeta cearense faz uma correlação de questões individuais, pautadas no apelo emocional, amoroso e nostálgico, com assuntos de ordem coletiva, que envolvem cidadania, democracia, política e, de forma subjetiva, manipulação social.
Com isso, o autor consegue criar um elo entre a vida pessoal e a vida pública, pois, de fato, é necessário o entendimento de que as coisas estão interligadas e a sociedade é um organismo integral.
Interessante notar como os poemas de Patativa, escritos há tantos anos, ainda permanecem atuais.
Fonte: Cultura Genial, com adaptações.
(A imagem acima foi copiada do link Images Google.)