Continuação do texto "A Política Como Vocação", de Max Weber
(WEBER, Max. A Política como vocação. In: ______. Ensaios de sociologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982. p. 55-64; 79-89.).
"Durante esse processo de expropriação política, (...),
surgiram os “políticos
profissionais”. (...) Esses homens que, ao contrário do líder
carismático, não queriam ser senhores, mas que se colocavam a serviço dos
senhores políticos. Na luta da expropriação, eles se colocavam à disposição dos
príncipes e, administrando-lhes as políticas, ganhavam, de um lado, a vida e,
do outro, um conteúdo de vida ideal. (...) somente no Ocidente encontramos esse
tipo de político profissional a serviço de outros poderes além do
príncipe". p. 59
"Há
dois modos principais pelos quais alguém pode fazer da política a sua vocação: viver “para” a política, ou viver
“da” política. (...) Quem vive “para” a política faz dela a sua vida, num
sentido interior. Desfruta a posse pura e simples do poder que exerce, ou
alimenta seu equilíbrio interior, seu sentimento íntimo, pela consciência de
que sua vida tem sentido a serviço de uma “causa”. (...) Quem luta para fazer
da política uma fonte de renda permanente,
vive “da” política como vocação". p.
60
"A burocracia moderna, no interesse da
integridade, desenvolveu um elevado senso de honra estamental, sem o qual
haveria fatalmente o perigo de uma
corrupção terrível e de um vulgar espírito interesseiro. E, sem essa
integridade, até mesmo as funções puramente técnicas do aparato estatal seriam
postas em risco". p.
62
"O
aparecimento dos “políticos destacados” se fez juntamente com a ascendência de
um funcionalismo especializado (...) esses conselheiros realmente decisivos dos
príncipes existiram em todas as épocas e em todo o mundo. No Oriente, a
necessidade de afastar do Sultão a responsabilidade pessoal pelo êxito do
Governo criou a figura típica do “Grão-Vizir”. No Ocidente, (...) a diplomacia tornou-se a princípio uma
arte cultivada conscientemente na época de Carlos V, no tempo de Maquiavel. (...) Os adeptos dessa arte,
em geral educados humanisticamente (...). Além dos funcionários e das
autoridades mais elevadas, o príncipe
cercava-se de pessoas de confiança puramente pessoal – o Gabinete – e através delas tomava suas decisões (...). O monarca, por sua vez, interessava-se
em poder nomear os ministros entre os servidores dedicados, à sua discrição". p.
63
"O
desenvolvimento da política numa organização que exigia o treinamento na luta
pelo poder (...), determinou a separação dos funcionários públicos em duas
categorias que, porém, não são rigidamente separadas, embora sejam distintas.
Essas categorias são os funcionários
“administrativos”, de um lado, e os funcionários
“políticos”, de outro". p.
64
"(...)
a carreira política proporciona uma sensação de poder. Saber que influencia
homens, que participa no poder sobre eles, e, acima de tudo, o sentimento de
que tem na mão uma fibra nervosa de acontecimentos historicamente importantes,
pode elevar o político profissional acima da rotina cotidiana, mesmo quando ele
ocupa posições formalmente modestas". p.
80
"Podemos
dizer que três qualidades destacadas são decisivas para o político: paixão,
senso de responsabilidade e senso de proporções". p. 80
"O
político pode servir a finalidades nacionais, humanitárias, éticas, sociais,
culturais, mundanas ou religiosas. O político pode ser mantido por uma forte
crença no “progresso” (...) ou pode
rejeitar friamente esse tipo de crença. Pode pretender estar a serviço de uma
ideia ou, rejeitando isso em princípio, pode desejar servir a finalidades
externas da vida cotidiana. Alguma forma de fé, porém, deve sempre existir. Se
assim não for, é absolutamente certo que a maldição da indignidade da criatura
superará até os êxitos políticos externamente mais fortes". p.
81
"O
meio decisivo para a política é a violência". p.
84
"A
ética dos fins últimos evidentemente se desfaz na questão da justificação dos
meios pelos fins". p.
84
"Quem
contrata meios violentos para qualquer fim – e todo político o faz – fica
exposto às suas consequencias específicas. (...) Quem deseja estabelecer a
justiça absoluta na Terra, pela força, necessita de adeptos, de uma “máquina”
humana. Deve proporcionar os prêmios necessários, internos e externos, a
recompensa celestial ou material, a essa “máquina”, ou ela não funcionará". p.
86
"Quem
deseja dedicar-se à política, e especialmente à política como vocação, tem de
compreender esses paradoxos éticos. Deve saber que é responsável pelo que vier
a ser sob o impacto de tais paradoxos. Repito: tal pessoa se coloca à mercê de
forças diabólicas envoltas na violência. Os grandes virtuosi do amor acósmico da humanidade e bondade, sejam de Nazaré
ou Assis, ou dos castelos reais da Índia, não operaram com os meios políticos
da violência. Seu reino “não era deste mundo”, e não obstante eles trabalharam
e ainda trabalham neste mundo". p.
87
"A
política é feita, sem dúvida, com a cabeça, mas certamente não é feita apenas
com a cabeça". p. 88