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domingo, 22 de dezembro de 2019

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira


(A imagem acima foi copiada do link Todo Estudo.)

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

CANTIGA DA RIBEIRINHA

Trovadorismo: escola literária surgida na Idade Média.

Em Português arcaico...

No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, des aquelha
me foi a mí mui mal di'ai!,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia*,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vós houve nen hei
valía dũa correa.


Em Português atual...

No mundo ninguém se assemelha a mim
Enquanto a vida continuar como vai,
Porque morro por vós e - ai! -
Minha senhora alva e de pele rosadas,
Quereis que vos retrate
Quando eu vos vi sem manto.
Maldito seja o dia em que me levantei
E então não vos vi feia!

E minha senhora, desde aquele dia, ai!
Tudo me ocorreu muito mal!
E a vós, filha de Dom Paio
Moniz, parece-vos bem
Que me presenteeis com uma guarvaia,
Pois eu, minha senhora, como presente,
Nunca de vós recebera algo,
Mesmo que de ínfimo valor.

* guarvaia: manto luxuoso, provavelmente de cor encarnada (vermelha), usado pela nobreza.


Paio Soares de Taveirós (1200 - ?): trovador da primeira metade do século XII. Compôs a Cantiga da Ribeirinha, considerada a primeira composição poética (canção trovadoresca) escrita em Língua Portuguesa, que recebeu esse nome por ter como 'musa inspiradora' a D. Maria Pais Ribeira, apelidada de "Ribeirinha". D. Maria era concubina de Sancho I (rei de Portugal). 


(A imagem acima foi copiada do link Estudo Prático.)

sexta-feira, 26 de março de 2010

O REI E SUAS QUATRO ESPOSAS

Era uma vez um rei que tinha quatro esposas. Ele amamva a quarta mulher e vivia dando presentes, jóias e roupas caras para ela. Dava-lhe tudo do bom e do melhor.

Também amava muito sua terceira esposa e gostava de exibi-la aos reinos vizinhos. Mas tinha medo de que, um dia, ela o deixasse por outro rei.

Amava sua segunda esposa. Ela era sua confidente e sempre o ajudava, com amabilidade e paciência. Quando tinha um problema para enfrentar, confiava nela.

A 1º esposa era uma parceira muito leal e fazia tudo o que estava a seu alcance para manter o rei muito rico e poderoso. Mas, apesar dela o amar profundamente, ele mal a considerava.

Um dia, o rei caiu doente e percebeu que seu fim estava próximo. Lembrou de toda a luxúria da vida e pensou:

“Tenho quatro esposas, mas com quantas poderei contar quando morrer?“

Então, ele disse à quarta esposa:

- Eu te amei tanto, cobri você de roupas e jóias. Agora que estou morrendo, você será capaz de ir comigo, para não me deixar sozinho?

- De jeito nenhum! -respondeu ela e saiu do quarto sem olhar para trás.

A resposta dela cortou o coração do rei como se fosse uma faca afiada. Triste, ele se voltou para a terceira esposa:

- Também te amei a vida inteira. Agora que estou morrendo, você é capaz de ir comigo, para não me deixar sozinho?

- Não! – respondeu ela – A vida é muito boa! Quando morrer, casarei de novo.

O coração do rei sangrou de tanta dor. Então, ele perguntou à segunda esposa:

- Eu sempre recorri a você quando precisei e você sempre esteve ao meu lado. Quando eu morrer, você será capaz de ir comigo, para me fazer companhia?

- Sinto muito, mas desta vez eu não posso atender ao seu pedido – respondeu ela.

- O máximo que posso fazer é enterrá-lo.

Essa resposta veio como um trovão e, mais uma vez, o rei ficou arrasado. Daí, então, uma voz se fez ouvir:

- Eu o seguirei por onde você for.

O rei levantou os olhos e lá estava a sua primeira esposa. Tão magrinha, tão mal nutrida, tão sofrida…. Com o coração partido, ele falou:

- Eu devia ter cuidado muito bem de você enquanto podia!

Na verdade, todo mundo tem quatro esposas na vida. Nossa quarta esposa é o nosso corpo. Apesar de todos os esforços para mantê-lo saudável e bonito, ele nos deixará quando morrermos.

Nossa terceira esposa são as nossas posses, propriedades e riquezas. Quando morrermos, tudo isso vai para os outros.

Nossa segunda esposa é a nossa família e os nossos amigos. Apesar de nos amarem e estarem sempre nos apoiando, o máximo que podem fazer é nos enterrar.

E nossa primeira esposa é a nossa alma, muitas vezes deixada de lado enquanto perseguimos a riqueza, o poder e os prazeres do nosso ego.

Apesar de tudo, nossa alma é a única coisa que sempre irá conosco, não importa onde vamos.

Então, cultive… fortaleça… bendiga… enobreça sua alma agora !!! Ela é o maior presente e a si mesma. Por isso, faça-a brilhar!!!!


Autor: Luiz Antonio Alencastro Gasparetto (São Paulo, 16 de agosto de 1949) é um psicólogo de formação, médium psicopictográfico, escritor e locutor brasileiro.





(A imagem acima é de Luiz Gaspareto e foi copiada do link Wikipedia.)