Tô
ficando velho! Um dia destes, às 2 (horas) da manhã, peguei o carro e fui
buscar minha filha adolescente, na saída de um show de rock.
Ela e as
amigas estavam eufóricas e eu ali, meio dormindo, meio de pijama, tentei entrar
na conversa:
- E aí, o
show foi legal?
A
resposta veio de uma mais exaltada no banco de trás:
- Cara! Tipo assim, foda!
E outra
emendou:
- Tipo
foda mesmo!
Fiquei tipo assim, calado o resto do percurso,
cumprindo minha função de motorista.
Tipo assim:
“kct! vc tmb nunk tah
trank, kra. Eh d+,
sl. T+ Bjoks. Jubys”.
Em
português:
“Cacete!
Você também nunca está tranquila, cara. É demais, sei lá. Até mais, beijocas.
Jubys”. Jubys, que deve ser pronunciado “diúbis”, é isso mesmo que você está
imaginando, a assinatura. Só que o nome de batismo é Júlia, um nome bonito,
cujo significado é “cheia de juventude”, que eu e minha mulher escolhemos,
sentados na varanda, olhando a lua...
Pois,
Jubys, é hoje essa personagem de cabelo cor de abóbora, cheia de furos na
orelha, um monte de arames na cara, mais parecendo um bicho. Sem falar nas
malditas pragas das tatuagens que tanto marginalizam os jovens.
Tô ficando
velho!
Há anos
tento convencer minha família a ver “Cantando na Chuva”, mas, sempre fica para
depois. Um dia, cheguei entusiasmado em casa, com a fita de um filme francês
que marcou minha infância: A Guerra dos Botões. Juntei toda a família para a exibição
solene e a coisa não durou cinco minutos!
O guri
foi jogar bola, Jubys inventou “um trabalho de história sobre a civilização
greco-romana que tem que entregar, tipo
assim, até amanhã, senão perde ponto”.
E até
minha mulher, de quem eu esperava um mínimo de solidariedade, se lembrou que
tinha um compromisso com hora marcada e se mandou. Fiquei ali, assistindo
sozinho e lembrando do tempo em que eu trocava gibi.
Uma amiga
me contou que o filho de 10 anos ficou espantado quando viu um telefone de discar.
Sabe, telefone de discar? É, tipo assim,
um aparelho sem teclas, geralmente preto, com um disco no meio, todo furado,
onde cada furo corresponde a um algarismo. Esse aparelho serve para conversar
com outras pessoas, como qualquer telefone comum.
Há pouco
tempo, João, meu filho de oito anos, pegou um LP e ficou fascinado! Botei pra
tocar e mostrei a agulha rodando, dentro do sulco de vinil. Expliquei que
aquele atrito gerava o som que estávamos escutando...
Mas aí,
ele já estava jogando vídeo-game. Não é que ele seja desinteressado... eu é que
fiquei patinando nos detalhes. Ele até que é bastante curioso e adora ouvir as
“histórias do tempo em que eu era criança”.
Quando
contei que a TV, naquela época, era toda em preto e branco, ele “viajou” na
ideia de que o mundo todo era em preto e branco e só de uns tempos para cá as
coisas começaram a ganhar cores.
Acho que,
de certa forma, ele tem razão. “Tipo assim”...