terça-feira, 13 de agosto de 2019

ESAÚ E JACÓ - COMENTÁRIOS (I)

Breve comentário da obra Esaú e Jacó, de Machado de Assis. Fragmento de texto a ser apresentado na disciplina Teoria da Narrativa, do curso de Letras, da UFRN, semestre 2019.2.

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O que falar da obra Esaú e Jacó, de Machado de Assis? À primeira vista, não parece tarefa fácil. Ora, o livro foi escrito há 115 anos. A sociedade era outra, os costumes eram outros, a realidade era outra, o mundo era outro.

A tarefa se torna mais complexa, ainda, se levarmos em consideração que o mestre Machado de Assis é um dos maiores ícones da literatura mundial, cujas ideias e pensamentos não são assim tão claros, principalmente para um ‘calouro’ universitário, pouco à vontade com a ciência das letras.

Mas vamos lá.

De antemão, cabe pontuar que o título em si já é desafiador: Esaú e Jacó. Para o leitor desavisado, pode parecer um conto machadiano com uma abordagem bíblica. Sim, para quem não sabe, Esaú e Jacó são dois irmãos gêmeos, filhos de Isaac, netos de Abraão, cuja história está descrita no livro do Gênesis, da Bíblia Sagrada. Esaú e Jacó, ao longo da vida, nutriram disputas irreconciliáveis em torno do tema da primogenitura, ou seja, direito de ser o preferido do pai e herdar-lhe bens, direitos e graças. A disputa desses irmãos entrou para a história, ficou famosa, atravessou os séculos e chegou até Machado de Assis, que se inspirou neles para escrever a obra homônima.

Mas o Esaú e Jacó machadiano não gira em torno da primogenitura. Existe, sim, uma disputa entre dois irmãos, que não se chamam nem Esaú, nem Jacó, mas Pedro e Paulo, que também gêmeos. A disputa gira em torno de opiniões, pensamentos e gostos antagônicos de Pedro e Paulo, que acabam disputando o amor de uma bela jovem, Flora.

Confesso que, por se tratarem de gêmeos em disputa, bem que o mestre Machado deveria ter deixado os nomes originais bíblicos. Esta foi minha primeira decepção. E já adiantando o desfecho da história, também não gostei de o autor ter matado a personagem Flora. Que maldade... Esperava um fim digamos, mais clássico.

Ora, algumas amigas minhas já compararam os contos machadianos às novelas de televisão. Discordo em parte. Se assim o fosse, na obra Esaú e Jacó, o final deveria ter terminado com o casamento da Flora com um dos gêmeos, e não morrendo... Esta foi minha segunda decepção.

Contudo, o livro não é só decepção. Apesar de ter sido escrito em outra época (1904), e tendo sido ambientado de meados para o fim do século XIX, época em que a sociedade e os costumes eram outros, o leitor de Esaú e Jacó tende a se identificar e familiarizar-se com algumas situações trazidas na obra.

Explica-se: Machado de Assis costuma ambientar suas histórias e personagens trazendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro. O leitor mais atento, inclusive, há de identificar algumas ruas e bairros citados na obra que existem até hoje.


(A imagem acima foi copiada do link Mega Leitores.)

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