Falo da História como investigação do passado, da História como o resgate e análise da memória. Poderia falar de outros conceitos, mas o que quero registrar é que não falo da história fantasiosa, o que também não deixa de ter seu valor, porém em outro contexto.
No Brasil, a disciplina de História, organizada por volta de 1827, foi forjada como um instrumento de auxílio na construção do Estado Nacional, de uma identidade abrasileirada. Em síntese, a disciplina de História foi implementada pela elite política a fim de exaltar seus valores, ideais e eventos apoteóticos, que reforçaram um patriotismo imposto. E durante muito tempo essa História excluiu a participação de outros sujeitos, isto é, os diversos grupos sociais brasileiros. Todavia, mesmo nos anos 1980 a historiografia brasileira sofrendo transformações em suas teorias e métodos com a introdução de novas abordagens (a História dos homens e mulheres comuns, a História cultural e cotidiano), aquelas frases continuaram pulverizadas nos diálogos do nosso dia a dia: “Eu não gosto de História”.
No tradicional ensino de História brasileiro, o aluno era compelido a fazer leituras dos textos narrativos e decorar nomes, datas e eventos importantes da História. Quando esse aluno concluía tal tarefa escolar, a maioria deles estufava o peito e dizia: “História é enfadonha e decoreba”. Isso significava que para aqueles alunos não havia sentido em estudar História. A mesma parecia não ter relação com a vida desses aprendizes. A despeito disso, houve bastantes mudanças e os alunos contemporâneos tiveram a oportunidade de verem outros métodos e outras fontes no estudo da História. A História abriu outros campos de estudos, como já foi frisado, e deu a possibilidade de uma observação mais crítica sobre o passado. Contudo, a pergunta ainda não calou: “Por que eu não gosto de História”?
O historiador Eric Hobsbaswn observou que, em nossa contemporaneidade, os jovens pareciam viver um “presentismo” contínuo, sem relação com o seu passado. Então, por que não vemos importância do nosso passado? Por que esquecemos tão rapidamente de uma conquista ou mesmo de um desafio que enfrentamos a algum tempo no passado? Será que essas memórias poderão dar sentido ao nosso presente desafiador e nos ajudar a melhorar os nossos empreendimentos como sujeitos sociais? Será que meus fracassos dos últimos anos poderão me ajudar a desenvolver novas estratégias para novas conquistas? Pois bem, a História só tem sentido quando nós observamos o passado com um olhar crítico e nos posicionamos como sujeitos engajados para melhorar meu mundo e o mundo de outrem.
Por que eu não gosto de História? Também a faço como minha pergunta pessoal. Porque eu não procurei observar o meu passado, não como memória dolorosa e traumática, mas como uma lição de caminhada e superação. Isso numa dimensão pessoal.
Por que eu não gosto de História? Porque eu não gosto de ler e observar o que ainda está ininteligível. Porque eu não gosto de tomar uma posição firme e se engajar pela paz, como uma militância universal, o que significa lutar pela vida, pela justiça social e pela redução da violência, em todos os sentidos, e da corrupção desavergonhada.
Por que eu não gosto de História? Porque eu não aprendi a divergir dos discursos sacramentados pelos grupos que construíram o Estado brasileiro e sua História romantizada. Porque eu não consegui perceber a minha responsabilidade como sujeito que junto com outros sujeitos poderão transformar uma realidade monótona e consolidada por aqueles que se beneficiaram no silêncio de muitos.
Por que eu não gosto de História? Porque eu não aprendi a gritar bem alto e agir denodadamente diante de uma covardia ou mesmo de uma sacanagem pública. Simplesmente porque eu não aprendi o que é a coisa pública. Porque eu não aprendi a administrar minha própria casa, minha rua, minha comunidade e meu país.
Por que eu não gosto de História? Porque eu ainda não percebi o sentido e a mensagem do meu passado. Porque eu não aprendi a corrigir meus erros que estão passando de geração a geração. Que infortúnio! Porque eu não tomei uma posição de mudança a fim de que a minha posteridade não fique sem as árvores, os rios, a dignidade humana, o caráter, a ética e o amor pela vida e pela humanidade.
(O texto acima tem como autor Arlan Eloi Leite Silva. Elói é Bacharel e Licenciado em História – UFRN, Pós-Graduando em Metodologia do Ensino de História e Geografia – UNINTER, Instrutor da disciplina História da PM no Centro de Formação e Aperfeiçoamento da Polícia Militar – CFAPM/RN, e Soldado da PM/RN. É também um leitor assíduo desse blog.)
As imagens que ilustram esse texto foram copiadas do link Images Google.
Obrigado amigo André Paulino por publicar o meu texto em seu blog. Esse texto objetiva justamente abrir uma discussão a fim de repensarmos a nossa postura diante do passado e as relações estabelecidas com o nosso presente desafiador.
ResponderExcluirUm texto bastante desafiador para todos nós que enxergamos o passado como algo insignificante para o presente.
ResponderExcluirParabéns ao autor pelo texto.
A questão da decoreba é tão gritante, que até hoje as pessoas pensam que todo historiador sabe todas as datas decoradas.
ResponderExcluirNunca gostei de História ...Não aprendia o assunto... Até zero eu tirava...
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