quinta-feira, 21 de agosto de 2014

AMOR É UM FOGO QUE ARDE SEM SE VER

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.  


É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;  


É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.  


Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Camões, in "Sonetos"


Luís Vaz de Camões (1524 - 1580), foi militar e poeta de Portugal. Viveu - e morreu - na fase final do Renascimento europeu, período de grandes transformações que assinalaram a transição da Idade Média para a Idade Moderna. Considerado um dos maiores nomes da literatura em língua portuguesa sua obra mais famosa é Os Lusíadas.



(Imagem copiada do link Wikipedia.)

Um comentário:

Alvaniza Macedo disse...

Grande poeta! O poema, escrito em tão longa data, assim como um espelho que reflete nossa imagem também reflete de forma invisível o sentimento do amor. Amor é fogo! É querer prender-se por vontade própria. Amor é cumplicidade! Amor é sentir dor. Mas, quem de nós não deseja um amor? Belíssima postagem André. Beijo!