Como o documentário mostra, a
imagem que estão passando dos negros nos Estados Unidos é de pessoas violentas,
criminosos, estupradores, perigosos. Isso ajuda a ‘aceitar’ a ideia de que
todos os afrodescendentes são culpados por algum crime e que, portanto, devem
ir para a prisão.
A verdade é que, por mais nua e
crua que possa parecer a realidade apresentada no documentário. Por mais que
nos solidarizemos com a causa negra, nenhum branco jamais saberá o que é ser
negro nos Estados Unidos. De ser revistado nas ruas, ter seu carro parado nas
estradas, ser visto como suspeito, pelos simples fato de ser negro.
Isso já vem de um longo processo
de educação e campanhas difamatórias. As pessoas têm medo dos negros, e os
políticos sabem disso. George H. W. Bush (1924 - 2018), por exemplo,
ganhou a corrida presidencial e chegou à Casa Branca utilizando-se desse
estratagema.
Como o documentário A 13ª
Emenda deixa claro, existem mais estupros de homens brancos contra mulheres
negras, do que de homens negros contra mulheres brancas. Mas no imaginário
popular, quando se fala em estuprador, a imagem associada imediatamente é a de
um home ‘de cor’.
Fruto de uma política opressora,
segregacionista, perseguidora e baseada no terror, o número de encarceramento no EUA chegou à marca de 1.179.200 detentos
em 1990. E pasmem, a maioria, negros.
E os anos noventa também
trouxeram uma nova roupagem à política, mas com as mesmas ideias de sempre.
Algo contraditório, mas foi o que aconteceu. Na disputa presidencial na qual Bill
Clinton sagrou-se vencedor, todos os candidatos apresentaram discursos de
endurecimento no que concerne ao enfrentamento da criminalidade. As palavras de
ordem nos debates presidenciais eram algo do tipo: mais policiais nas ruas,
combater a criminalidade, enrijecer o sistema, tomar medidas drásticas...
O documentário também abordou a
política dos 3 strikes (faltas) e está fora. Surgida no contexto
da morte violenta de uma garotinha de 12 anos – Polly Klaas – tal dispositivo
consistia no seguinte: caso uma pessoa cometesse um terceiro crime violento
ficaria preso para sempre.
Uma ideia aparentemente simples,
mas que acabou implicando em alguns problemas de ordem prática. Ora, como o
sistema penitenciário americano estava com a capacidade máxima quase completa,
em Los Angeles (Califórnia), foram soltos cerca de 4.200 detentos (acusados de
delitos leves), por mês, para dar espaço aos prisioneiros do 3º strike. E
mais...
Em muitas comunidades da
Califórnia, os julgamentos de casos civis foram simplesmente cancelados para
dar espaço aos julgamentos criminais. Os juízes não estavam dando conta. O
poder de julgamento estava saindo das mãos dos juízes e passando para os promotores.
E isso é uma coisa boa?
De acordo com o documentário A
13ª Emenda, não. Um dos entrevistados, o promotor público (negro) Ken
Thompson afirma que 95% (noventa e cinco por cento) dos promotores eleitos
nos Estados Unidos, são brancos. Isso já é uma clara prova de qual lado a lei
estará.
E tem mais. O Congresso
Americano recebeu uma proposta de uma lei federal de combate ao crime de US$ 30
bilhões (trinta bilhões de dólares) em 1994. Isso, por si só, representava na
época o Produto Interno Bruto (PIB) de muitos países. Essa lei defendia
pesadamente o encarceramento e foi assinada por Clinton.
A ideia, defendida pelo
presidente, era aparelhar o Estado com novas tecnologias para combater a
criminalidade do século XXI, e deixar a comunidade mais segura. Na prática,
representou uma enorme expansão do sistema presidiário. Além de fornecer
dinheiro e instrumentos para a polícia continuar fazendo prisões arbitrárias,
bem como outras atitudes perversas, que continuamos vendo hoje.
Segundo o ativista e
ex-presidiário Craig DeRoche, o que o presidente Clinton fez em 1994 foi
mais prejudicial que seus antecessores, pois construiu as infraestruturas que
vemos hoje, bem como a militarização das equipes policiais. Isso ensejou um
verdadeiro boom no sistema penitenciário.
(A imagem acima foi copiada do link Jornal do Comércio.)