Excelente documentário - para quem gosta de cinema e para quem quer desenvolver o senso crítico
As
estatísticas não mentem: os Estados Unidos abrigam 5% (cinco por cento) da população
mundial, e, pasmem, 25% (vinte e cinco por cento) dos detentos do mundo. Tem
alguma coisa errada.
Isso
significa que, um a cada quatro seres humanos tolhidos de sua liberdade estão
enjaulados na ‘terra da liberdade’. E não se trata de simples pena alternativa,
mas de encarceramento mesmo, puro e simples. Estão presos, acorrentados,
naquela que é a terra exemplo de oportunidade, modelo de liberdade. Parece
paradoxal, mas esta é a realidade hoje da sociedade norte-americana. Algo da
qual ela se envergonha, mas tenta escamotear, e que não aparece nos filmes de
Hollywood.
Os
entrevistados do documentário corroboram seus respectivos pontos de vista
amparados em dados estatísticos históricos (dados estes, oficiais). Um desses
entrevistados, por exemplo, comenta que a população carcerária estadunidense
era de 300.000 (trezentos mil) presos em 1972. Hoje, este mesmo contingente
humano ultrapassa os dois milhões e trezentos mil aprisionados. Ou seja,
cresceu cerca de 7,6 vezes num lapso temporal de 44 anos.
Em
termos leigos e resumidamente falando, significa dizer que os Estados Unidos
têm a maior taxa de encarceramento do mundo. Superam nações que estão
envolvidas em conflitos externos ou com declarada guerra civil; desbancam,
inclusive, regimes ditatoriais e totalitários.
Só
agora a sociedade norte-americana parece estar acordando para essa triste
realidade. É fato: o sistema prisional têm falhas e precisa ser reduzido. É
caro demais, ineficiente demais, está fora de controle.
Todavia,
essas mesmas pessoas que ficam indignadas e expressam tanta preocupação, quanto
ao custo e a extensão do sistema carcerário, não se dispõem a falarem
seriamente sobre o assunto, ou de como remediar o mal causado.
Um
traço marcante no longa-metragem A 13ª
Emenda – e
talvez decorra daí seu grande sucesso – é que os produtores fazem um diálogo
histórico com os expectadores, embasando seus argumentos não em ‘achismos’, mas
na própria história estadunidense.
Ora, a História não é algo que
acontece por acaso, nós (cidadãos, Governo, ONG’s, igreja) somos os protagonistas
desse processo, assim como nossos antepassados. Independentemente de sermos
negros ou brancos, estamos todos unidos nesse processo, ao mesmo tempo
influenciando e sendo influenciados.
Contudo, decisões
erradas, tomadas lá ‘atrás’ por nossos antepassados ensejaram a perpetuação de
um modelo social e de produção que, passados alguns séculos, ainda parece
arraigado na cultura norte-americana. Segundo o documentário, a América precisa
fugir disso, se pretende ser o modelo de ideal democrático e de liberdade que o
mundo pensa que ela é e que tanto inveja.